As negociações na conferência do clima do Egito (COP27) entraram em uma fase crítica neste sábado (19), depois que a União Europeia denunciou o que considera um "retrocesso inaceitável" em relação a compromissos prévios. A UE prefere "não ter um resultado do que ter um resultado ruim", afirmou o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, após uma noite de negociações.
A COP27 deveria ter acabado oficialmente na sexta-feira (18). O bloco europeu é contrário a uma proposta da presidência egípcia que, em sua opinião, provoca o retrocesso do compromisso dos quase 200 países membros da COP de continuar reduzindo a emissão de gases do efeito estufa, o que é conhecido como o capítulo de mitigação nas negociações.
— A grande maioria das partes indicou que considerava o texto equilibrado e que pode resultar em um consenso — respondeu o chanceler egípcio Ameh Shukri, que preside a COP27.
A mitigação é imprescindível para manter "vivo" o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a +1,5ºC.
— Não estamos aqui para fazer declarações, e sim para manter o objetivo de 1,5ºC vivo — afirmou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annaelena Baerbock.
Perdas e danos
A 27ª conferência do clima da ONU começou em 6 de novembro com um tema dominante na agenda: a possibilidade de criar um fundo de perdas e danos provocados pela mudança climática.
As negociações aceleraram depois que Timmermans propôs, em uma sessão plenária na quinta-feira, abordar a criação de um "Fundo de Resposta" aos desastres climáticos, dedicado aos países mais vulneráveis, em troca basicamente de duas condições.
A primeira é "ampliar a base de doadores", ou seja, integrar os países que se tornaram grandes emissores de gases do efeito estufa, como a China. E a segunda condição é obter um compromisso forte e explícito a respeito da mitigação, para manter o objetivo do limite de +1,5ºC.
Os vínculos entre um fundo de compensações, quem contribui para o mesmo e a mitigação das emissões paralisaram as negociações, segundo várias fontes consultadas pela AFP. O texto de negociação que gera tem apoio da "grande maioria", ainda não havia sido divulgado na manhã de sábado.
Um rascunho prévio citava até três opções para o fundo. Uma fonte latino-americana que pediu anonimato alertou que todo o capítulo sobre mitigação "explodiu", com demandas muito contraditórias.
Questões entrelaçadas
— Como vocês podem imaginar, nenhum grupo poderia dizer que todos os seus interesses estão contemplados — explicou Shukry.
— Há insatisfação em todas as partes, mas há uma grande maioria que apoia o texto — insistiu o chanceler egípcio.
Shukry afirmou na sexta-feira que todas as questões estão "entrelaçadas". Nas conferências do clima da ONU todas as decisões devem ser tomadas por consenso.
— Estamos preparados para ficar pelo tempo necessário em Sharm el Sheikh — declarou Timmermans.
A delegação dos Estados Unidos permanece em silêncio nos debates, mas atua nas salas de negociações, de acordo com várias fontes. O enviado especial para o clima do governo americano, John Kerry, testou positivo para covid-19, o que poderia dificultar sua participação.
Compensar os países que historicamente emitiram menos gases do efeito estufa, mas que sofrem as consequências de fenômenos meteorológicos extremos, é uma aspiração antiga das nações mais vulneráveis.
— As contribuições deveriam incluir todos os grandes emissores, como China, Arábia Saudita ou Catar — afirmou o ministro canadense do Meio Ambiente, Steven Guilbeault.
US$ 100 bilhões por ano
O delegado chinês na sessão plenária, Zhao Yingmin, se limitou a pedir que o Acordo de Paris "não seja reescrito".
O acordo histórico de 2015 estabeleceu as bases do atual compromisso contra a mudança climática, mas recordou que responsabilidade é comum, embora diferenciada, ou seja, que os países desenvolvidos devem contribuir muito mais com base em seu histórico de emissões e uso de recursos naturais.
Entre os países em desenvolvimento há uma desconfiança considerável pelas promessas não cumpridas do passado. Em 2009, os países desenvolvidos prometeram que desembolsariam a partir de 2020 a quantia de 100 bilhões por ano para ajudar na adaptação dos países pobres às mudanças climáticas e na redução de suas emissões, ao mesmo tempo que iniciam a transição energética.
E o valor de 100 bilhões de dólares, que ainda não foi completado, deve ser aumentado, a princípio, a partir de 2025.
* AFP