Quem já teve uma cocota como animal de estimação sabe que o bichinho é barulhento. Nos últimos dias, moradores e visitantes de Porto Alegre puderam constatar o mesmo, uma vez que, nesta época do ano, as caturritas, como também são conhecidas, cantam sem parar nos ninhos localizados em diversos espaços urbanos da cidade. A cantoria, típica do período reprodutivo dessas aves, deve diminuir em março ou abril, após o fim do verão.
A Myopsita monachus, nome científico das caturritas ou cocotas, é uma ave de coloração verde, podendo ter a testa e o peito da cor cinza, que costuma medir entre 28 e 33cm e que adora cantar. A bióloga especialista em bioacústica e doutoranda em biologia animal Patrícia Paludo conta que essa espécie costuma vocalizar bastante.
— A vocalização vai desde de defender o seu território até procurar parceiros para reproduzir. Agora, entre a primavera e o verão, elas estão na janela reprodutiva, e por isso acabam vocalizando mais que o normal — afirma. Segundo a chefe do setor de fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) da Capital , Soraya Ribeiro, o canto da caturrita parece um conjunto de gritos estridentes, enquanto o canto do papagaio, ave de aparência similar, lembra o latido de um cachorro.
Patrícia explica que a ordem Psittaciformes, da qual as caturritas fazem parte, é um grupo que tem aprendizagem vocal. Ou seja, enquanto outros animais nascem sabendo alguns hábitos, as caturritas aprendem através da vocalização.
— É uma característica cognitiva muito interessante. Tem um período em que o filhote da caturrita ouve o canto dos adultos, repete e vai ajustando conforme ouve o dos adultos — relata a profissional que estuda a acústica das aves.
A Capital conta com um alto número de caturritas e papagaios. É possível encontrar as aves por toda cidade, mas Soraya chama atenção para a presença de caturritas em praças, parques e em bairros como o Menino Deus, por exemplo, que é bem arborizado. As cocotas, que são maioria no município, gostam de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul em geral por causa da diminuição no número de predadores e por causa da sua dieta variada, que garante que elas irão encontrar alimentos em qualquer lugar. As caturritas se alimentam de flores, frutos, brotos e legumes. Por isso, conseguem se adaptar com facilidade a espaços urbanos.
— Às vezes tem gavião e falcão, que são predadores, mas elas desenvolveram a habilidade de fazer ninhos em lugares altos, como antenas de telefonia. Assim, elas ficam abrigadas e protegidas dos predadores — diz Soraya.
A caturrita constrói o próprio ninho, diferentemente dos papagaios, que procuram cavidades naturais em troncos de árvores, com gravetos. As construções normalmente são grandes e têm várias entradas diferentes, uma vez que as cocotas costumam dividir o espaço.
*Produção: Yasmim Girardi