É só a primavera começar que você começa a espirrar, sentir coceira no nariz e lacrimejar? Talvez, você tenha alergia ao pólen das plantas ou esteja sofrendo com rinite alérgica. GZH ouviu três especialistas para entender por que a primavera pode prejudicar quem vive com essas condições.
A alergia ao pólen acontece quando o nosso corpo entre em contato com esses grãos produzidos pelas plantas e identifica essa substância como alérgena. Assim, o corpo reage, causando os sintomas já conhecidos: espirros contínuos, lacrimejamento, obstrução nasal e coceira na garganta, no céu da boca, no nariz e nos olhos.
— Qualquer substância pode causar alergia se o nosso corpo reagir a ela, mas não sabemos exatamente o que faz o corpo identificar essas substâncias como alérgenos — pontua a diretora-secretária da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia Regional Rio Grande do Sul (Asbai-RS), Helena Fleck Velasco.
— Os sintomas de alergia típicos da primavera não dão risco de vida, mas incomodam e atrapalham o dia a dia dos pacientes. Dificulta o sono e o trabalho. Então, é importante tratar – defende Helena.
Para tratar, porém, é necessário ter o diagnóstico completo, que consiste em saber exatamente a qual substância o paciente tem alergia. Existe uma série de exames que podem ser feitos, de IgE específico, como o de sangue, por exemplo. Havendo a suspeita de qualquer alergia, é recomendado buscar um médico alergista.
Polinização
A polinização acontece porque as plantas, que são organismos parados, precisam trocar material genético. Esse processo pode ser feito de duas formas, explica o professor de ecologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Pedro Abreu. Uma delas é por intermédio de animais, como as abelhas, que carregam esse pólen. E a outra é com a ajuda do vento.
— As espécies de plantas cujo pólen é transportado pelos animais, que são a maioria que temos aqui, liberam menos pólen. Tem plantas que fazem polinização por anemofilia, que é pelo vento. Estas, liberam muito pólen no ar, principalmente nessa época da primavera – explica Abreu.
No Hemisfério Sul e, principalmente, na região sul do Brasil, um dos grandes culpados pela alergia ao pólen, segundo os especialistas ouvidos, é o azevém, planta que tem aparência semelhante ao trigo e que é conhecida como planta daninha. Essa gramínea é utilizada como alimento para o gado, uma vez que tem altas taxas nutricionais.
Se você nunca viu uma plantação de azevém não significa que essa plantinha não é a causa da sua alergia. Abreu explica que o vento pode transportar o pólen por até algumas dezenas de quilômetros, dependendo da condição dos ventos. Outras gramíneas também podem produzir grandes quantidades de pólen que vão ser transportados pelo vento.
Tratamento e dicas
O tratamento para qualquer alergia, seja ela a pólen ou a outro alérgeno, pode ser medicamentoso, com sprays nasais e antialérgicos. Uma outra opção, também disponível para alguns casos de rinite, é uma vacina, quando nenhum dos outros tratamentos trazem resultados.
— A vacina é uma imunoterapia, uma sensibilização a um antígeno especifico. Só pode ser feita em pacientes acima de cinco anos e a indicação é para quando a pessoa sofre muito e não tem resposta com o medicamento. Mas é uma alternativa cara e não muito eficaz — explica Luciano Fiorin, otorrinolaringologista do Hospital Mãe de Deus.
Existem, porém, algumas dicas para lidar melhor com a alergia que chega junto com a primavera:
— Alguns cuidados que podemos ter é manter as janelas fechadas quando tiver muito vento. Esta orientação é diferente da que é feita para quem alergia ao ácaro, quando recomendamos abrir as janelas. Quando sair na rua, usar óculos escuros pode ajudar a proteger o contato do pólen com as mucosas, que é o que traz inflamação e pode causar esses sintomas. O pólen do vento também pode ficar nos cabelos e na roupa. Então, quando chegar em casa, é bom trocar de roupa, tomar um banho e lavar os cabelos – auxilia a diretora-secretária da Asbai-RS.
Rinite
Antes de tudo, é importante definir alguns conceitos comumente confundidos. Rinite, segundo Fiorin, é todo o processo inflamatório da mucosa nasal, sendo infeccioso ou não. Já a alergia é uma reação do sistema imunológico contra substâncias que entram em contato com o corpo.
Na prática, os sintomas são quase indiferenciáveis. Quando comparamos a alergia ao pólen com a rinite alérgica, por exemplo, é ainda mais difícil de notar diferença. O que difere é, basicamente, a época do ano e a duração dos sintomas.
– Rinite, basicamente, aparece o ano todo. A alergia ao pólen, só na primavera – simplifica Helena.
Farin pontua que a rinite pode ser dividida em duas categorias: alérgica e não alérgica. Na primeira, a mucosa nasal inflama após exposição a antígenos alérgenos, como pólen, ácaros, fungos, baratas e pelos de cães e gatos, por exemplo. Por outro lado, na rinite não-alérgica, os sintomas não são agravados quando expostos a algum alérgeno.
— Como a rinite idiopática, em que os sintomas podem ser desencadeados por fatores ambientais, como umidade, ou por odores. Também tem a rinite persistente, uma das mais comuns no Brasil, que é quando os sintomas permanecem por mais de quatro dias na semana e por mais de quatro semanas seguidas. Tem também a rinite hormonal, que pode ocorrer na gravidez — exemplifica o especialista.
O diagnóstico acontece, principalmente, com anamnese e exame físico, notando se há secreção nasal ou inchaço da pálpebra, por exemplo. O tratamento para a rinite é semelhante ao sugerido para as alergias: sprays nasais, antialérgicos e a vacina, em casos extremos. Fiorin pontua, também, que entre os cuidados diários estão a higiene do ambiente em que o paciente fica e a lavagem nasal com solução salina.
Produção: Yasmim Girardi