O Brasil ultrapassará em 137% a meta de emissões de CO2 estabelecida para 2030 se o desmatamento seguir o ritmo acelerado registrado nos últimos quatro anos. Atualmente, o país emite 1,8 bilhão de toneladas de CO2 e chegará a 3 bilhões em oito anos se a destruição das florestas não for contida.
O alerta está no estudo Cenário Continuidade, feito por pesquisadores do Centro de Estudos Integrados Sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) , por iniciativa do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Instituto Talanoa e divulgado nesta quinta (15). O trabalho adverte ainda que as consequências para o aquecimento global serão graves.
O Brasil assumiu, no Acordo de Paris, a meta de chegar a 2030 emitindo no máximo 1,3 bilhão de toneladas de CO2 anuais. O tratado internacional tenta reduzir as emissões de gases do efeito estufa e conter o aumento das temperaturas globais.
— Os números são muito impactantes — resumiu a diretora-executiva do ICS, Ana Toni. — O país precisa de outra trajetória. Esse alerta é um aviso importante para os candidatos à Presidência. É preciso olhar para esses números e saber o que queremos. Não podemos repetir os últimos quatro anos, é ruim para o Brasil e péssimo para o planeta.
Os pesquisadores trabalharam com dois cenários. No primeiro, o desmatamento da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica seguiria o ritmo estabelecido entre 2018 e 2021 pelos próximos quatro anos, mas se estabilizaria a partir de 2026. Nesta projeção, o Brasil chegaria a 2030 extrapolando a meta de emissões em 91%. Na segunda hipótese, a destruição das florestas continuaria na intensidade atual pelos próximos oito anos. Neste caso, a meta seria superada em 137%.
Os cientistas acreditam que, se o desmatamento permanecer elevado, a Amazônia será especialmente impactada. A parte destruída da floresta chegaria a 25%. Esse ponto é considerado irreversível e daria início ao processo de savanização do bioma. O descumprimento das metas estabelecidas no Acordo de Paris pode colocar em risco o próprio tratado, além de trazer problemas geopolíticos para o Brasil.
— Se chegarmos nesse nível, colocamos o acordo em xeque — explicou a diretora-executiva do ICS, Ana Toni. — O Brasil vai às COPs (as reuniões climáticas da ONU), se compromete com as metas e não faz nada. Como os outros países vão responder a isso? Como a comunidade internacional vai reagir? — completa.
Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu até a publicação da reportagem.