A terça-feira (17) gelada afastou as pessoas das ruas de São Francisco de Paula, nos Campos de Cima da Serra. Ao longo do dia, o Lago São Bernardo – ponto turístico da cidade – se manteve com poucos ou nenhum visitante. Na Avenida Júlio de Castilhos, localizada no centro do município, só enfrentava o frio e o vento quem tinha compromissos inadiáveis.
Durante a tarde, a temperatura girou em torno de 7°C, com sensação térmica de 3°C. Às 19h, a marca já tinha caído para 3°C, com sensação térmica de -2°C.
Entre os fatores que contribuem com essa diferença entre o que está registrado nos termômetros e o que se sente, um dos principais é o vento, que estava forte. Não há estação meteorológica em São Chico, mas, em Cambará do Sul, por exemplo, que fica a 70 quilômetros de distância da cidade, houve rajadas de 72 km/h, segundo a Climatempo.
Comerciantes do município relatam que o movimento de pessoas que buscam o turismo de inverno já está aumentando. Com a previsão de neve para a região para esta terça e quarta-feira (18), já confirmada em São José dos Ausentes, o interesse cresceu – segundo a prefeitura de São Chico, a ocupação dos serviços de hospedagem já estava em 80% nesta terça.
A reportagem de GZH permaneceu na região do Lago São Bernardo por cerca de meia hora ao longo da tarde. Nesse período, o local, que costuma atrair muitos turistas e moradores que querem tirar fotos e caminhar em volta do lago, recebeu um único visitante – o representante comercial Tércio dos Santos. Ele viajou de Porto Alegre a São Chico para fazer reuniões com clientes e aproveitou para passar lá e fotografar o lugar.
— Eu gosto muito desta região porque sempre tem novidades. A neve, por exemplo é um atrativo. É uma coisa cultural da Serra, que todo ano gera uma expectativa — comenta Tércio.
No centro da cidade, a comerciante Elci Breier caminhava pela Avenida Julio de Castilhos rumo à escola da filha. Moradora de São Chico, ela considera o clima normal para a região, mas acha que chegou mais cedo neste ano.
— Hoje está demais. No ano passado começou em junho e, neste ano, veio mais cedo. Nem começou o inverno e já tá assim. Neste ano, vamos sofrer — projeta.
Para se proteger do clima rigoroso, Elci dá a receita: cachecol, casaco e vacina contra a gripe.
O proprietário rural Dinarci Silva, que mora há 60 anos no interior de São Chico, estima, pela sua experiência com a cidade, que a possibilidade de neve é grande.
— Às vezes, a neve desvia e vai para outros municípios, mas tem bastante chance — analisa.
Produtor de queijo serrano, Dinarci comenta que, às vezes, as intempéries pegam as pessoas de surpresa, como este frio intenso em maio. Para evitar qualquer problema, considera que o mais importante é arrumar bons abrigos e alimentos, “pra bicho e pra gente mesmo”.
— Não dá para esperar a fome bater para ir atrás. Temos que acumular para que, na hora que precisa, nós tenhamos ali — avalia o proprietário rural.
Vento e frio seguem na quarta-feira
Segundo a meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo, a quarta-feira poderá ter rajadas entre 80 km/h e 100 km/h em várias regiões do RS, inclusive a Serra. Ela explica que a sensação térmica de muito frio ocorre devido à combinação de uma série de fatores.
— As temperaturas baixaram muito no Rio Grande do Sul devido à entrada de uma massa de ar frio, mas também pela falta do sol. Temos uma das combinações mais gélidas de todo o país, que é o vento forte, a falta do sol e a presença do ar frio de origem polar. Isso traz uma sensação térmica de frio muito maior do que em outros lugares do Brasil que também estão com essa massa de ar frio — relata Josélia.
Para quarta-feira, ainda há chance de chuva na Serra, o vento seguirá forte e se mantém a possibilidade de neve, podendo haver chuva congelada em outras regiões do RS. O sol deve reaparecer entre a tarde de quarta e a manhã de quinta-feira (19), quando a tempestade subtropical Yakecan se afasta do Estado.