O acasalamento das sépias-gigantes- australianas, invertebrados marinhos "parentes próximos" do polvo, tem chamado a atenção de turistas de todo mundo. Os moluscos emitem luzes estroboscópicas em determinadas situações, como no ato sexual. Com isso, as águas ganham um colorido especial. A informação é da BBC.
No período compreendido entre maio e setembro, centenas de milhares de sépias-gigantes-australianas se reúnem nas águas próximas de Point Lowly, na região norte do Golfo Spencer, na Austrália, para se acasalar. De acordo com Bronwyn M Gillanders, pesquisadora e chefe da escola de ciências biológicas da Universidade de Adelaide, na Austrália, o número de sépias que se reuniram para fins reprodutivos em 2020 foi de 247 mil, o mais alto registrado até o momento.
As sépias se acasalam em outros lugares, mas o Golfo Spencer é o único que reúne uma grande quantidade desses moluscos durante o processo. Para Bronwyn, a região foi escolhida pelos animais devido à paisagem marinha atrativa e por estar cercada por saliências rochas, que servem de abrigo para as fêmeas colocarem os ovos.
— Não há nenhum outro lugar no mundo em que se pode observar comportamentos de acasalamento tão espetaculares e estranhos em massa, incluindo mudanças de cor e machos que se disfarçam de fêmeas — explicou a pesquisadora em entrevista à BBC..
A cidade de Whyalla, na Península de Eyre, no sul da Austrália, é um dos locais que recebe turistas que desejam presenciar o espetáculo luminoso. Do Parque Marinho do Norte do Golfo Spencer ja é possível acompanhar o acasalamento das espécies. Segundo Tony Bramley, proprietário da Whyalla Diving Services (empresa de serviços de mergulho), isso tem feito com que a cidade cresça e aconteça a movimentação da economia local.
Grupos de pesquisadores têm estudado e acompanhado a espécie nas últimas décadas. A partir disso, já foi observado que alguns destes animais viajavam pelo menos 65 quilômetros do sul de Whyalla e outras 35 quilômetros do norte para chegar às regiões reprodutivas no Golfo Spencer.
Espetáculo no acasalamento
Durante a reprodução da espécie, são emitidas luzes nas cores roxo, laranja, turquesa e rosa. No acasalamento, isso é visto como uma técnica de sedução para atrair parceiros. Geralmente, os machos superam o número de fêmeas, em uma proporção de dez para um, o que torna ainda mais acirrada a disputa pela transmissão de genes.
ntre as sépias, os machos geralmente são maiores e mais agressivos. No entanto, os menores utilizam algumas técnicas para vencer os obstáculos. Alguns se disfarçam de fêmeas, o que faz com que sejam capazes de fugir de confrontos com outros concorrentes maiores.
— Os machos menores podem desbotar sua coloração translúcida, chegando ao bordô e branco manchado de uma fêmea, antes de aconchegarem seus braços ondulantes em seus corpos. Isso faz com que pareçam fêmeas, e como os machos corpulentos estão ocupados brigando entre si, deixando sua parceira em potencial vulnerável, os pequenos passam velozmente por eles disfarçados para obter acesso à fêmea — disse Sarah McAnulty, bióloga especializada em lulas da Universidade de Connecticut, nos EUA, à BBC.
De acordo com Sarah, assim que obtém acesso às fêmeas, os machos já voltam a sua coloração original. Se sépia feminina aceitar o acasalamento, ocorre o emaranhado de tentáculos e o macho deposita seu pacote de esperma na boca da fêmea, utilizando um braço especialmente desenvolvido para isso, chamado de hectocótilo.
A fêmea retém o esperma recebido até que esteja pronta para colocar os ovos. Além disso, ela pode acasalar com vários machos e, algumas vezes, utiliza uma mistura de diferentes espermas para seus ovos.
Sarah, assim como outros pesquisadores, têm observado que muitas fêmeas têm preferido machos menores, selecionando os parceiros mais por inteligência e rapidez do que por atributos físicos como tamanho e volume.
— Estudos mostraram, inclusive, que quando as fêmeas vão botar seus ovos, elas dão uma proporção maior de paternidade a esses machos astutos — contou a bióloga.