Tempestades de terra e poeira, chamadas de haboob, como as registradas em cinco Estados brasileiros nos últimos dias, não devem ocorrer no Rio Grande do Sul. Pelo menos, nos próximos meses. De acordo com climatologistas e meteorologistas consultados pela reportagem de GZH, o fenômeno só é registrado quando alguns fatores ocorrem ao mesmo tempo: altas temperaturas, passando de 36ºC por vários dias seguidos, solo seco por estiagem prolongada e a chegada de uma frente fria.
No Sudeste e Centro-Oeste, ainda há o fator das queimadas florestais e de lavouras de cana, dando mais condições de um haboob ocorrer.
— As queimadas acabam deixando a temperatura da superfície muito mais elevada e há ainda um contraste térmico, quando há uma área de instabilidade se aproximando - com formação de nuvens cumulonimbus, de tempestade. Quando esta nuvem se forma nas proximidades, a frente fria vai avançando e levando um ar frio para uma região que está muito quente. E é este choque térmico entre a massa de ar mais frio e úmido com a área mais seca e quente o responsável por levantar a terra e formar a tempestade de poeira — explica a meteorologista Maria Clara Sassaki, do Climatempo.
De acordo com Maria Clara, não há como prever a formação de uma tempestade de poeira, tampouco indicar onde ela já ocorreu. Os fatos costumam ser registrados pela população local. A meteorologista explica que, assim como ocorreu em áreas do Brasil Central, tempestades de poeira podem ocorrer na região da Campanha gaúcha, por exemplo, onde as temperaturas são muito elevadas.
— Mas esta possibilidade só existe se houver uma seca prolongada, seguida de uma frente fria — justifica Maria Clara.
Segundo o professor de Climatologia e Oceanografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Francisco Eliseu Aquino, com o aumento da temperatura global, cada vez será mais comum ver este tipo de ocorrência em locais onde o desmatamento e a crise hídrica já se instalaram, como no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
Tempestades de terra e poeira costumam ocorrer também no Sul do Brasil, não com a mesma intensidade das ocorridas em outras áreas do país, no Uruguai e na Argentina. Em 18 de dezembro do ano passado, um haboob se formou no Centro argentino, atingindo pelo menos três cidades.
No Rio Grande do Sul, Aquino alerta que é preciso conter agora as queimadas e o desmatamento do Bioma Pampa ou passaremos a ter episódios de haboob com frequência, como os ocorridos em São Paulo e outros quatros Estados brasileiros.