O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, pediu neste sábado (12) que os governos declarem "estado de emergência climática" em uma cúpula virtual na qual países renovaram seus compromissos de redução de gases com efeito estufa.
Apesar da severa recessão causada pela covid-19, os países devem se esforçar e cumprir suas metas, disse Guterres, cinco anos após os Acordos de Paris, que fixaram metas históricas.
— Se não mudarmos o curso, poderemos estar caminhando para um aumento catastrófico na temperatura (média) de mais de 3°C neste século. Todos os líderes do mundo devem declarar um estado de emergência climática em seus países — explicou Guterres.
Os países decidiram neste sábado aceitar o desafio, embora de forma desigual.
O presidente chinês Xi Jinping, cujo país é o principal poluidor do planeta, garantiu que reduzirá sua intensidade de carbono (emissões de CO2 em relação ao PIB) em 65% até 2030, em relação aos níveis de 2005.
A China está empenhada em atingir seu pico de emissões em 2030, baixando até atingir a neutralidade de carbono (emissões compensadas por retenção de CO2) em 2060.
O consumo de energia chinês virá de 25% de fontes renováveis em 2030, em comparação com 15,3% em 2019, garantiu.
Por sua vez, a Índia, o quarto maior emissor do mundo, planeja recorrer a fontes de energia renováveis para atingir o equivalente a 450 GW até 2030.
Até 2047, no centenário de sua independência, a Índia "não só alcançará seus próprios objetivos, mas excederá suas expectativas", assegurou o primeiro-ministro Narendra Modi em seu discurso aos líderes mundiais.
A União Europeia já havia anunciado na sexta-feira (11) um aumento na redução de emissões, que agora será de 55% até 2030 (ante 40%, anteriormente).
O Reino Unido, por sua vez, comprometeu-se a reduzir em 68% suas emissões de gases.
Os compromissos foram recebidos com moderada satisfação por especialistas e ONGs.
Há cinco anos, em Paris, os países prometeram lutar para que o aumento da temperatura média do planeta ficasse "claramente" abaixo de 2°C, e se possível 1,5°C, em relação à era pré-industrial.
— A China tem potencial para fazer mais. Fazer com que suas emissões atinjam o pico antes de 2025 (em vez de 2030) é algo que eles deveriam considerar — explicou Li Shuo, um especialista chinês do Greenpeace.
A Índia, por sua vez, não se comprometeu a estabelecer uma data-alvo para a neutralidade de carbono.
Já o presidente chileno, Sebastián Piñera, pediu ao planeta que reduza suas emissões em 45% nos próximos 10 anos.
Em videoconferência desde Santiago, Piñera lembrou a mensagem que os países em desenvolvimento sempre mantiveram: as contribuições para o esforço devem ser "determinadas nacionalmente, proporcionais às capacidades e responsabilidades de cada país".
Antes da cúpula, o Equador pediu mais "cooperação internacional" para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas.
"Bem-vindo de volta!"
Nessa cúpula virtual, que substituiu a prevista Conferência do Clima (COP), que foi remarcada em Glasgow, na Escócia, no próximo ano, a principal notícia foi o ansiado retorno dos Estados Unidos às negociações.
O presidente eleito Joe Biden declarou em comunicado que "não há tempo a perder", ao que o presidente francês Emmanuel Macron respondeu em inglês:
— Bem-vindo de volta, bem-vindo ao lar!
Com negociações climáticas complexas, nas quais todos devem entrar em consenso, pouco se avançou desde a saída dos Estados Unidos do acordo, decidida por Donald Trump.
Trump se aliou a outros líderes, como o brasileiro Jair Bolsonaro, para desafiar o status quo diante da questão das mudanças climáticas.
Brasil e Áustria não estavam entre os convidados neste sábado, por causa de suas metas, consideradas insuficientes.
Para o diretor executivo do Greenpeace, John Sauven, com esta cúpula "há motivos para ter esperança".
— Com Donald Trump fora da Casa Branca e ações climáticas mais fortes da China, Coreia do Sul e Japão, agora temos a chance de reunir o mundo em um esforço maciço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa — enfatizou.