A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne organizações ambientalistas e do agronegócio, recebeu na quinta-feira (1º) um apoio de peso do setor financeiro. Bradesco, Itaú Unibanco e Santander aderiram ao grupo que busca consensos a fim de apontar caminhos para problemas que hoje ameaçam afetar negócios no Brasil, como o desmatamento da Amazônia.
Em comunicado conjunto, os três maiores bancos privados do país — que, em julho, já tinham anunciado a criação do Plano Amazônia, voltado ao desenvolvimento sustentável da Amazônia e à proteção da floresta — afirmaram que o objetivo é implementar ações para promover um novo modelo de desenvolvimento econômico. A pauta é a economia de baixo carbono, a fim de responder aos desafios das mudanças climáticas e trazer avanços na agenda de clima e agropecuária no Brasil.
O anúncio ocorre em meio a maior cobrança pelo rastreio da cadeia agropecuária, e os bancos têm sido cobrados a negarem crédito para os que desmatam ilegalmente a Amazônia. O rastreio eficaz e fiscalização são alguns dos desafios para analisar toda a cadeia, do início ao fim.
Os três bancos explicaram, por meio de nota, que reconhecem na Coalizão um ambiente no qual podem somar esforços com outras empresas e organizações da sociedade civil.
"A agenda de preservação da floresta e de combate ao desmatamento exige atuação conjunta. Por isso, além de promover ações no âmbito de atuação dos bancos, temos buscado atuar em fóruns empresariais e agora com a Coalizão".
Segundo as três instituições, o Plano Amazônia continua sendo implementado e, entre as prioridades, estão a atuação junto ao setor frigorífico para eliminar o desmatamento da cadeia da carne, apoio ao desenvolvimento de culturas sustentáveis, regularização fundiária e fomento à bioeconomia.
"Estamos falando sobre condições de acesso a crédito, adoção de diligências na concessão de financiamentos, entre outras ações", citou a nota. "A Coalizão tem uma agenda mais ampla, que possui convergências com os compromissos dos bancos".
Adesões
Hoje com mais de 200 membros, a Coalizão tem ganhado força com a adesão de mais entidades e empresas do setor agropecuário, que veem riscos a seus negócios diante da repercussão negativa que a crise ambiental do país tem causado mundo afora.
Desde 2019, aderiram os frigoríficos Marfrig, JBS e BRF e associações como Abiec (exportadoras de carne), Abrapalma (produtores de óleo de palma) e União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes). Elas se uniram a entidades como Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam) e WWF-Brasil. O grupo, porém, teve a perda do Observatório do Clima.
— Hoje, somos o maior movimento de diálogo cidadão no que tange à agricultura, ao clima e à floresta no Brasil. O crescimento que tivemos neste ano mostra o momento de grande anseio por diálogo e por uma construção positiva entre o agronegócio, os setores de clima e agora dos serviços financeiros. Em todo o mundo, a presença dos bancos e dos fundos de investimento nessa agenda mudou o debate que era focado no social e no ambiental. Trouxe uma nova dimensão que é da análise de risco de longo prazo — disse Marcello Brito, um dos cofacilitadores da Coalizão e presidente da Abag.
O aumento do grupo ocorre também em um momento em que o governo tem sido cobrado por investidores sobre medidas para combater a devastação ambiental no país.
— Toda a polarização que estamos vivendo no país, não só na agenda agroambiental, reflete o quanto estamos tensionados. E tensão cansa. Uma consequência é que as pessoas, as organizações e as empresas começam a buscar espaços onde possam dialogar e construir caminhos para solucionar os problemas — disse André Guimarães, também cofacilitador da Coalizão e diretor executivo do Ipam.
Apesar dos novos membros, o esforço por buscar convergências entre ruralistas e ambientalistas não tem sido fácil. No fim de 2019, a Coalizão perdeu seis entidades-chave do agronegócio, como a Sociedade Rural Brasileira (SRB).