Porto Alegre amanheceu com um cenário atípico nesta sexta-feira (2). Por volta das 8h, quando a claridade costuma ficar mais evidente, o céu ainda estava escuro, dando um tom de noite à cidade em meio à neblina e à instabilidade. Em seguida, um tom amarelado começou a tomar conta da Capital, lembrando os tradicionais filtros de imagem usados pelo cinema americano para situar cenas que se passam no México. Especialistas ouvidos pela reportagem de GaúchaZH apontam a nebulosidade, a umidade e a presença de sujeira, como fumaça de queimadas, na atmosfera como fatores que podem explicar o fenômeno.
O professor da UFPel e chefe do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da universidade (Cpmet/UFPel), Leonardo Calvetti, afirma que esse cenário ocorre em razão da presença de nuvens profundas sobre Porto Alegre. Essas nuvens têm uma grande presença de água condensada e formam gotas de chuva maiores, que espalham os raios solares, que não chegam com intensidade à superfície, produzindo uma luz difusa e escuridão.
Além de bloquear a luz solar, essas nuvens também impactam na coloração percebida no ambiente, de acordo com o meteorologista.
— Se você olha para o céu, observa que as nuvens estão se movimentando muito baixas, porque a gente tem uma grande quantidade de umidade na atmosfera. Essas nuvens baixas são obstáculos para a luz solar. Então, a gente tem um fenômeno bem interessante de espalhar bastante o raio solar e daí tem essas tonalidades amarelas e avermelhadas.
Calvetti destaca que, além dessas gotas, alguns cristais de gelo dentro da nuvem atuam como prismas, refletindo os raios solares com uma gama de cores diferentes. Em relação ao nevoeiro, o profissional destaca que a situação é explicada pela umidade e pela temperatura em elevação, que ajudam a condensar as gotas.
Professor dos programas de graduação e pós-graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Ernani Nascimento explica que a presença de aerossóis atmosféricos, partículas suspensas na atmosfera terrestre, como fumaça e poluição urbana, também influenciam na forma como a radiação solar chega à superfície. Segundo Nascimento, a presença desses aerossóis já era percebida no céu do Estado na noite de quinta-feira (1º), com a coloração da lua em tom mais alaranjado.
Nascimento afirma que é difícil precisar a presença de fumaça das queimadas do Pantanal nesses aerossóis sobre o Estado, mas que esse fato é possível em razão da direção do vento.
— A gente pode imaginar o seguinte: toda a radiação solar tendo de atravessar a atmosfera com um ângulo bem oblíquo, quando o sol está baixo, a quantidade de ar que a radiação solar tem de percorrer é maior do que quando o sol está a pino. Nessas situações, se o ar estiver rico em aerossóis, vai dar essa aparência que começa para os tons mais amarelados, alaranjados.
Nascimento destaca que a chuva costuma lavar a atmosfera, removendo esses aerossóis e deixando o céu com aspecto mais limpo.