Um satélite será lançado no espaço em outubro deste ano com o objetivo de contribuir para os estudos sobre mudanças climáticas na Terra. A missão não tripulada faz parte de um projeto liderado pelo físico Vanderlei Martins, professor da Universidade de Maryland, Baltimore County (UMBC), nos Estados Unidos, em parceria com a Nasa. As informações são de O Globo.
O equipamento, que é do tamanho de um pão de forma, servirá para coletar dados sobre a influência de partículas suspensas na atmosfera na formação de nuvens e sua relação com as variações climáticas registradas nos últimos anos.
O dispositivo, chamado Harp CubeSat, ficará no espaço por um ano e permitirá observar o mesmo ponto na superfície da Terra de 60 ângulos diferentes. De acordo com Martins, por ser um estudo cujo tema é pouco compreendido, será capaz de ajudar a comunidade científica a elaborar novas pesquisas.
— O efeito dessas partículas na formação de nuvens é hoje a maior incerteza quando se fala em projetos sobre a mudança climática — diz Martins, que foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).
Chamadas de aerossóis atmosféricos, as pequenas partículas suspensas na atmosfera terrestre — como poeira, fuligem, fumaça e poluição urbana — influenciam de forma direta o balanço de radiação da atmosfera, provocando um resfriamento da Terra. A poluição, por exemplo, aerossol produzido pelo próprio homem, afeta também a saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa exposição frequente causa cerca de 30 milhões de mortes de pessoas por ano.
— Quando tipos de partículas mais claras, como poeira ou pólen, ficam na Terra, podem refletir a radiação solar de volta para o espaço, o que reduz a quantidade de energia solar no planeta. Se são partículas mais escuras, como fuligem e fumaça, elas absorvem radiação solar, causando aquecimento na atmosfera — explica o físico brasileiro.
Essas partículas também são capazes de influenciar nas formações de nuvens, compostas por gotas envolvidas em partículas de aerossol atmosférico, que pode ou não ser maléfico. Para resumir, o que se sabe é que quanto mais se emitem aerossóis poluentes na atmosfera, mais se alteram não só a composição e o balanço de água, como também o tempo de vida das nuvens e a probabilidade de chuva.
— Sabemos que existe forte correlação entre concentração de certos aerossóis e a ocorrência de mortes prematuras em certas regiões. Mas, nos casos de balanço de energia e de formação de nuvens, ainda precisamos descobrir como se dá essa influência, e em quais casos será benéfica ou não. Dependerá do tipo de aerossol e das condições meteorológicas de cada lugar. É algo complexo, e ainda estamos estudando isso — diz Martins.
O satélite enviará para a Terra imagens e dados de pontos específicos do planeta, como centros urbanos, locais de queimadas e regiões desérticas. As informações serão usadas para reproduzir parâmetros como a quantidade e o tipo de poluição da atmosfera.
— Em uma região de céu aberto, o satélite enviará a quantidade de partículas. Em um cenário só de nuvens, saberemos o tamanho das gotas e sua composição. Isso nos permitirá fazer uma associação entre quantidade, tipo de aerossóis e tipo de nuvens em cada região — conta o físico brasileiro.