Um total de 42 baleias-francas (20 mães acompanhadas de filhotes e duas adultas sozinhas) foram avistadas em um monitoramento aéreo, realizado nos dias 17 e 18, no litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Esse foi o principal sobrevoo de monitoramento da temporada 2020, já que setembro é o auge do período reprodutivo das baleias-francas, quando um maior número de indivíduos é registrado no litoral sul do Brasil. O próximo sobrevoo está previsto para novembro, no fim da temporada.
As informações foram divulgadas pelo Instituto Australis de Pesquisa e Monitoramento Ambiental, uma entidade civil sem fins lucrativos criada em 2015 para auxiliar na manutenção das atividades do Programa de Pesquisa e Conservação da Baleia-Franca.
Intitulado expedição ProFRANCA, o sobrevoo estendido é uma ação conjunta do programa de monitoramento das baleias francas da SCPAR Porto de Imbituba (SC) e do Projeto Franca Austral, realizado pelo Instituto Australis, com patrocínio Petrobras. Além do tradicional monitoramento que abrange a região da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, entre Torres, no Rio Grande do Sul, e Florianópolis, Santa Catarina, o percurso foi estendido e iniciou no município de Santa Vitória do Palmar, extremo sul gaúcho, percorrendo cerca de mil quilômetros de costa até a cidade de Penha, no litoral norte de SC.
Dentro da área regularmente sobrevoada em anos anteriores, entre Florianópolis (SC) e Torres (RS) foram avistadas 30 baleias, sendo 15 mães acompanhadas de filhotes. Esse número é menor que observado em setembro do ano passado, quando foram avistadas 52 baleias no mesmo trecho.
Segundo Karina Groch, Diretora de Pesquisa do ProFRANCA, "o baixo número de baleias foi uma surpresa, pois este ano as baleias chegaram na região mais cedo", o que em geral é um indicativo de um número maior de baleias virem se reproduzir no litoral do Brasil.
"Além disso, estamos tendo um ano muito atípico em termos de distribuição das baleias, com ocorrência mais ao Sul. E temos feito contato com os pesquisadores que atuam nas outras áreas de concentração de baleias-francas no Hemisfério Sul, que também estão registrando números menores que em 2019".
A equipe de monitoramento aéreo, formada por um a dois observadores e um fotógrafo, faz o censo e o registro da localização dos indivíduos, além da fotografia das baleias. As fotos serão utilizadas na identificação dos indivíduos adultos, possível através de calosidades que cada animal possui sobre a cabeça, únicas para cada baleia-franca, como se fosse uma impressão digital.
Segundo os pesquisadores que participaram do sobrevoo, diversos fatores podem influenciar no número de baleias em áreas reprodutivas avistadas neste ano.
— A variação pode estar atrelada a fatores como a disponibilidade de alimento antes da migração e a reprodução desses animais na Argentina, que é uma área mais próxima às zonas de alimentação, localizadas na Antártica — afirma Gilberto Ougo, oceanógrafo da empresa Acquaplan que integrou a equipe da expedição.
Ameaçada de extinção no Brasil, a baleia-franca é uma espécie que conta com uma população estimada em 500 indivíduos e uma taxa de crescimento de 4% ao ano. Os números são resultado de uma tese de doutorado apresentada este ano, contemplando a uma análise de 15 anos de dados dos sobrevoos de monitoramento da espécie. A realização e continuidade deste monitoramento sistemático de longo prazo é fundamental para acompanhar a recuperação populacional da espécie no sul do Brasil.