O célebre pôr do sol do Guaíba ganhou tons mais intensos com a chegada do outono. O globo alaranjado, por vezes puxando para o vermelho, e mais gordo deixou a visão dos porto-alegrenses mais aprazível.
As causas desse espetáculo da natureza, entretanto, são pouco desejáveis: doses elevadas de poeira e fumaça no ar.
O professor de geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Luciano Zasso explica que a coloração rubro-alaranjada do sol é sazonal para a estação e tem relação com o ar mais seco. No entanto, em 2020 tais características se sobressaem.
— Neste ano está mais seco do que nos anteriores, e, como o outono já é uma estação de baixa umidade, tem havido uma alteração nas cores e aparência mais avermelhada — explica.
O fenômeno, diz o especialista, chama-se dispersão das ondas em vermelho. Ocorre porque os raios do sol batem nas partículas de poeira e de fumaça na atmosfera e geram mais luminosidade.
— É como se os raios de chocassem com essas partículas e espalhassem mais luz, criando uma cortina brilhosa — descreve.
Sob a ótica dos porto-alegrenses, há um reforço da característica marcante do final de tarde, cujo colorido invade o azul do céu quando a estrela muda de ângulo e se aproxima do horizonte. Como os raios são "quebrados" pela atmosfera mais carregada, há uma intensificação das cores laranja e vermelha.
— A má notícia é que essa mudança na coloração mostra que a qualidade do ar não é a ideal — afirma Zasso.
O manto de partículas está diretamente associado à estiagem e às queimadas. A falta de chuva leva o Rio Grande do Sul a enfrentar a estiagem mais severa desde 2012. Neste ano, todas as regiões do Estado registram acumulados de chuva abaixo da média histórica. A situação já fez com que 401 municípios decretassem emergência até o final de maio, conforme a Defesa Civil.
A falta de chuva também tem levado à disparada nas queimadas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que foram registrados 1.144 casos no Estado de janeiro a maio de 2020. Em igual período do ano passado, haviam sido apenas 255 registros de queimadas.