As mudanças climáticas devem intensificar os incêndios no sul da Amazônia, região do arco do desmatamento, o que fará crescer a área queimada e consumir até 16% do bioma na região até 2050. Além disso, mais queimadas significam mais emissões brasileiras de gases do efeito estufa.
Os cenários para o fogo na Amazônia nas próximas décadas foram simulados em pesquisa publicada, nesta sexta-feira (10), na revista Science Advances.
Os pesquisadores levaram em conta cenários mais otimistas (com menores emissões, próximas ao Acordo de Paris) e mais pessimistas (sem redução das emissões). Em ambos os casos, intensifica-se o fogo na Amazônia. Isso acontece porque a umidade do interior da floresta, que naturalmente impede o surgimento natural do fogo e o avanço de incêndios, diminui conforme o clima local fica mais seco.
Na floresta amazônica, o fogo está fortemente relacionado ao processo de desmatamento, no qual os desmatadores queimam, durante o período seco, a mata derrubada.
Em agosto de 2019, o Brasil teve 91.891 pontos de fogo — mais de 50% deles na Amazônia —, o maior número de focos de queimadas para o mês desde 2010. Os incêndios na floresta amazônica estavam concentrados em propriedades privadas.
Mesmo para cenário em que o desmatamento deixa de acontecer, os incêndios devem aumentar, segundo a pesquisa. Ainda que o desmate volte a patamares menores, de cerca de 3 mil km² por ano (entre agosto de 2018 e julho de 2019 a destruição alcançou 9.762 km²), a floresta mais seca devido às mudanças do clima deve intensificar as queimadas.
Com esse possível desmatamento menor, até mesmo áreas onde a destruição é menor, como unidades de conservação e terras indígenas, sofreriam mais com as queimadas.
Segundo os pesquisadores, controlar o desmatamento se torna central para reduzir o fogo e as emissões derivadas dele. No pior cenário possível (sem redução de emissões), sem desmate, as áreas queimadas são reduzidas em mais de 30% e as emissões de gases-estufa em 56%.
A atividade agropecuária no Brasil responde pela maior fatia (69% em 2018) dos gases de efeito estufa liberados pelo país. Na conta da atividade também entra o desmatamento.
Por fim, os pesquisadores afirmam que seus cálculos provavelmente subestimam a área queimada e as emissões relacionadas a queimadas no futuro.
Nos últimos meses, a Austrália enfrenta incêndios catastróficos, que levaram a mortes e evacuações. A situação atual australiana, segundo cientistas, tem fortes relações com as mudanças climáticas.