Depois de consagrar termos como "pósverdade" em edições anteriores, a eleição da palavra do ano realizada pelo renomado Dicionário Oxford destacou "emergência climática" como a expressão mais importante de 2019. A escolha da ativista sueca Greta Thunberg como personalidade do ano pela revista americana Time, na sequência, confirmou a relevância da proteção à natureza nos meses anteriores. O tema ganhou atenção no Brasil em razão de desastres provocados por lama, óleo, fogo e pelo debate envolvendo a flexibilização de regras de proteção – o que inclui a aprovação do novo código ambiental no Rio Grande do Sul.
Um relatório divulgado pela Organização Meteorológica Mundial em dezembro atestou que "2019 encerra uma década de calor global excepcional, perda de gelo e recorde no aumento do nível do mar, impulsionados pelos gases do efeito estufa expelido por atividades humanas". Como resultado, as temperaturas médias nos últimos cinco (2015-2019) ou 10 anos (2010- 2019) estão "entre as mais altas já registradas", segundo a organização.
— Estou dizendo para vocês que há esperança. Eu tenho visto isso. Mas ela não vem dos governos e corporações. Ela vem das pessoas — discursou a jovem Greta, em sua participação na Conferência pelo Clima da ONU, na Espanha, no começo de dezembro.
No Brasil, o calor veio com o fogo. Em agosto, as queimadas na Amazônia atingiram o maior patamar em nove anos para esse período e lançaram uma nuvem de fumaça que chegou ao Sudeste. O presidente Jair Bolsonaro inicialmente culpou organizações não governamentais pelos incêndios (sobrou até para o ator Leonardo DiCaprio), mas investigações da Polícia Federal indicaram participações de fazendeiros e empresários nos crimes ambientais.
Os desastres se repetiram por ar, terra e água. O ano começou com a tragédia provocada pelo rompimento de mais uma barragem em Minas Gerais, em Brumadinho, que deixou pelo menos 257 mortos, e terminou com toneladas de óleo despejados em alto-mar nas praias do Nordeste. Até o momento, ninguém foi punido. As investigações envolvendo esses eventos deverão prosseguir em 2020, assim como os debates envolvendo o rigor da fiscalização.
— Em todo o país, assistimos a tentativas de enfraquecimento de instrumentos usados para a defesa do ambiente, com foco na área de licenciamento. A crítica é que o processo é demorado, mas o problema não é o licenciamento, que até ajuda os empreendedores a se organizarem, é a gestão, a falta de pessoal adequado — analisa Jackson Müller, presidente do Conselho Regional de Biologia da 3ª Região e professor da Unisinos.
O governador Eduardo Leite afirmou que a modernização de regras como as do novo código ambiental gaúcho, aprovado em dezembro, estimulam o desenvolvimento econômico ao reduzir a burocracia.
— Podemos manejar a natureza com responsabilidade para que as futuras gerações possam ter as condições de se sustentar, com respeito ao ambiente — disse Leite após a votação na Assembleia.