A comunidade internacional alcançou, neste domingo (15), um acordo mínimo na COP25, realizada em Madri, longe de responder firmemente à urgência climática, conforme reivindicado pela ciência e pela sociedade civil.
Após duas semanas de negociações, a conferência da ONU concordou em pedir aos países que aumentem suas metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no próximo ano, o que é essencial para tentar conter o aquecimento a menos de +2°C.
O encontro, entretanto, não emitiu nenhum sinal forte de que intensificará e acelerará a ação climática.
Ainda no sábado (14), a presidente da COP25, Carolina Schmidt, disse que entende o descontentamento dos delegados e promotores da 25ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e prometeu um texto final e conclusivo mais ambicioso. Este texto é o que está sendo analisado neste domingo (15) em plenário.
O encontro, que deveria terminar na sexta-feira (13), se estendeu para o fim de semana devido a impasses nas negociações. Nos últimos dias do encontro, o Brasil não aceitou dois parágrafos incluídos no documento final que faziam referências expressas sobre o papel dos oceanos e do uso da terra no clima global.
O país tentou retirar do texto a menção a estímulos para estudos sobre a relação entre os oceanos e o solo com as mudanças climáticas. Em entrevista à GloboNews, Salles disse que o intuito do Brasil é "não desviar o foco" das emissões provocadas pela queima de combustíveis fósseis das maiores economias do mundo.
— É importante o Brasil deixar claro que o problema das emissões de gases são os combustíveis fósseis. E, portanto, tem que deixar clara a tentativa de disfarçar a discussão dos combustíveis fósseis, afastar e logar para outros temas — declarou.
Além disso, o ministro criticou "um protecionismo muito forte dos países ricos" durante os debates da COP25, "para não abrir seus mercados de carbono para os países em desenvolvimento". Também disse que, devido à falta de acordo sobre o mercado de carbono, "o Brasil e outros países que poderiam fornecer créditos de carbono em razão de suas boas práticas ambientais saíram perdendo".
Resultado foi "frustrante", dizem ativistas
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, disse que o resultado da conferência foi uma "frustração", já que as principais decisões ficaram para 2020.
— É uma conferência em que o tema era a ambição, os níveis atuais (de ação) não conseguiram entregar os objetivos do Acordo de Paris. Essa COP, que era a COP da ambição, deixou toda a chamada para ação e toda a ambição para o próximo ano — explicou Rittl em entrevista à GloboNews.
Nas redes sociais, a ativista Greta Thunberg lamentou o caminho das negociações em Madri. "Parece que #cop25 em Madri está desmoronando agora. A ciência é clara, mas a ciência está sendo ignorada. Aconteça o que acontecer, nunca desistiremos. Nós apenas começamos", escreveu Greta em sua conta no Twitter.
— O resultado dessa COP é totalmente inaceitável — disse a diretora-executiva do Greenpeace, Jennifer Morgan.
De acordo com a ONG ambientalista, apenas as nações mais vulneráveis mostraram empenho para reduzir as emissões.
"Durante esse encontro, a porta foi literalmente fechada a valores e fatos, enquanto a sociedade civil e cientistas que pediam a luta contra a emergência climática eram excluídos da COP25" diz uma nota do Greenpeace.
O Greenpeace ainda chamou países como Brasil e Arábia Saudita de "bloqueadores climáticos" e os acusou de "venderem acordos sobre carbono para atropelar cientistas e a sociedade civil".
António Guterres, secretário-geral da ONU, também comentou sobre o evento e disse estar "decepcionado com os resultados". No entanto, afirmou que "não podemos nos render" na luta contra a crise climática.
— A comunidade internacional perdeu uma oportunidade importante de mostrar uma maior ambição em mitigação, adaptação e finanças para enfrentar a crise climática — declarou Gutérres.