Fragmentos do óleo que já atingiu os nove Estados do Nordeste e a costa norte do Espírito Santo foram encontrados nesta quarta-feira (13) em mais uma praia capixaba. O novo trecho poluído por pequenas porções de petróleo fica na praia de Regência, na cidade de Linhares - município onde, no último fim de semana, locais de desova de tartarugas ameaçadas de extinção já tinham sido atingidos. Na terça-feira (12), porções de óleo também foram encontradas próximo à foz do Rio Doce.
Segundo a prefeitura de Linhares, fragmentos da substância oleosa poluíram a região da Reserva Biológica de Comboios, na praia de Regência, a 120 quilômetros ao norte de Vitória. A informação foi confirmada pelo gestor da unidade de conservação, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Antonio de Pádua Leite. Além de ser sede de uma comunidade que vive principalmente da pesca, o distrito de Regência atrai turistas e muitos surfistas.
De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Naturais, Fabrício Borghi Folli, militares do Exército que estavam de prontidão na região já começaram a limpeza da faixa de areia e, junto com servidores do instituto, estão percorrendo a praia para saber a extensão da área afetada.
— As equipes estão em campo, coletando o material e monitorando (a situação) com o apoio do Exército — disse Folli, explicando que, além de extenso, o litoral tem trechos de difícil acesso. Além disso, a chuva que atingiu a região nas últimas horas dificulta o trabalho de limpeza.
— Linhares tem o maior litoral do Espírito Santo, com cerca de 86 quilômetros. Algumas praias são urbanizadas, frequentadas, enquanto outras são quase que desertas, de difícil acesso. Estamos monitorando todo este extenso litoral. Em todas as praias já foram detectados fragmentos do óleo — declarou o secretário em entrevista à Agência Brasil e Rádio Nacional AM, de Brasília – ambas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Biólogo, Folli disse ainda não poder dimensionar as consequências da contaminação para a fauna e a flora da região.
— A probabilidade é que tanto a vida marinha quanto a terrestre estejam sofrendo algum tipo de consequência, mas eu ainda não posso afirmar isso porque ainda não conseguimos precisar — afirmou.
Lamentando o potencial impacto negativo para a economia local, o secretário lembrou que há quatro anos a cidade já sofre com os prejuízos socioambientais causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG), ocorrida em novembro de 2015.
— Ainda estamos avaliando os impactos dos rejeitos de minério de ferro que chegaram às nossas praias e sofremos mais este golpe. Estamos muito preocupados porque esta é uma situação socioambiental muito grave — declarou Folli, revelando que alguns hotéis e pousadas de Linhares já registram o cancelamento de reservas de hospedagem. — Não é o momento de histerismo, mas é um sinal de alerta — afirmou.
Cuidados com as tartarugas
O secretário garantiu que, junto com equipes do Projeto Tamar e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os servidores municipais têm adotado as precauções necessárias para preservar os ovos depositados por tartarugas marinhas nas praias de Linhares.
— Uma das nossas primeiras ações foi identificar e minimizar os possíveis impactos sobre os locais de desova destes ninhos. Todo o litoral de Linhares, principalmente a região de Comboios, onde fica a reserva biológica, tem sido objeto deste cuidado. As equipes não utilizam maquinário pesado para evitar o atropelamento ou o soterramento de ninhos, o que dificulta o trabalho das equipes, que têm que avançar a pé — comentou Folli, estimando que, daqui a cerca de 20 dias, os primeiros filhotes de tartarugas devem começar a nascer e avançar pela areia em direção ao mar.
Contenção
Para tentar minimizar os efeitos negativos do óleo cru sobre o ecossistema da região, a prefeitura de Linhares e as autoridades estaduais e federais discutem o fechamento da foz do Rio Doce, em Regência. A medida temporária visa evitar que o material poluente atinja e contamine o estuário local – onde o rio encontra o mar –, e está sendo discutida com o Ibama.
Além disso, a prefeitura solicitou ao governo estadual 1.300 metros de barreiras de contenção, 800 metros de rede Bidim (manta com elevada porosidade) e 1.800 metros de redes de malha (pesca), que devem ser instalados em pontos estratégicos da foz.