Desde o primeiro avistamento de manchas de óleo em praias de Pernambuco, no dia 30 de agosto, a contaminação se espalhou por nove Estados do Nordeste e já afeta 200 praias, conforme a última atualização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), publicada em 19 de outubro. Nesta quarta-feira (23), integrantes da ONG Greenpeace derramaram óleo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, como forma de cobrar ações do governo. No Senado, está para ser votada uma proposta da Comissão de Meio Ambiente para decretar estado de emergência ambiental na região.
Em pouco mais de 50 dias de trabalho, a Marinha já recolheu mais de 1 mil toneladas de resíduo das praias, mas a investigação sobre a origem do óleo ainda não é conclusiva. É, aliás, enganosa uma publicação compartilhada nas redes sociais que atribui à Shell a responsabilidade pelo óleo, conforme verificado pelo Projeto Comprova. Em audiência pública realizada pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados na terça-feira (22), o contra-almirante Alexandre Rabello de Faria reiterou que há "fortes evidências" de que o óleo começou a se espalhar em águas internacionais, porém essa hipótese ainda precisa ser confirmada pelas autoridades. O que os investigadores já identificaram é que se trata de petróleo cru, bastante denso e que o tipo de material encontrado não é produzido nem comercializado pela Petrobras.
Ainda estão sendo estudados os riscos à fauna e aos frequentadores das praias — muitas delas são turísticas, como Porto de Galinhas (PE), Praia da Pipa (RN) e Morro de São Paulo (BA). Segundo o Ibama, há prejuízos já consolidados entre aves e animais marinhos. Preventivamente, integrantes do Projeto Tamar, que atua na proteção ambiental, retiraram milhares de filhotes de tartarugas marinhas de praias de Bahia e Sergipe. Na terça-feira (22), o secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Jorge Seif Júnior, anunciou uma parcela extraordinária do seguro-defeso para os pescadores artesanais afetados pelo vazamento na região. Os impactos à pesca ainda estão sendo apurados.
Confira mais informações atualizadas sobre o óleo no Nordeste.
Quais os locais atingidos até agora?
Conforme boletim atualizado pelo Ibama em 19 de outubro, são 200 praias atingidas em nove Estados. As primeiras manchas apareceram em Pernambuco, no dia 30 de agosto, mas hoje o Rio Grande do Norte é o mais afetado, com 43 praias atingidas. O óleo atinge praias, manguezais e também a foz do Rio São Francisco, em Alagoas. oram afetadas praias turísticas como Porto de Galinhas, em Ipojuca (PE); Boa Viagem, em Recife (PE); Pipa, em Tibau do Sul (RN); Tambaba e Praia do Amor, em Conde (PB); e Morro de São Paulo (BA) — esta última ainda não figura no boletim do Ibama, pois a mancha foi identificada após a consolidação do documento.
O que está sendo feito para combater o problema?
A Marinha informou na terça-feira (22) que já foram recolhidas mais de 1 mil toneladas de resíduos nas praias do Nordeste. No dia anterior, o presidente em exercício Hamilton Mourão anunciou reforço do Exército no combate às manchas de óleo. O Senado deve votar nesta quarta-feira (23) um conjunto de ações propostas pela Comissão de Meio Ambiente da Casa, para conter os danos. A principal delas é decretar estado de emergência ambiental na região, o que possibilitaria a liberação mais rápida de recursos. Nas praias, o recolhimento do óleo é feito por voluntários, funcionários de órgãos ambientais estaduais, municipais e federal, além dos militares. A Petrobras cedeu boias de contenção, mas o equipamento não é eficaz, porque tem a função de conter óleo superficial (quando a substância tem densidade menor do que a da água), e o poluente que atinge o Nordeste do país se concentra em camada subsuperficial. Trata-se de petróleo cru, bastante denso e se espalha abaixo da superfície marinha, o que dificulta a detecção por imagens de satélite ou sobrevoos. Quando as manchas aparecem, elas já estão muito próximas à costa.
Quais as possíveis causas da contaminação?
Até o momento, segundo a Marinha, as principais hipóteses são de que o produto tenha vazado enquanto era transferido de uma embarcação para outra, ou que um navio que transportava o óleo tenha naufragado sem deixar registros, o que levanta a possibilidade de se tratar de uma embarcação clandestina, que navegava com sinalizador desligado para não ser identificada. Também não está descartada a hipótese de um derramamento de óleo. Conforme o contra-almirante da Marinha Alexandre Rabello de Faria, há "fortes evidências" de que o óleo começou a se espalhar em águas internacionais. Em análise feita pela Petrobras, a empresa informou que o óleo encontrado na costa nordestina não é produzido pelo Brasil. Ainda, é enganosa a informação compartilhada nas redes sociais que atribui à Shell a responsabilidade pelo vazamento, conforme verificado pelo Projeto Comprova.
Quem participa da investigação?
A Marinha coordena as investigações com apoio da Polícia Federal e do Ibama. Órgãos estrangeiros, incluindo a guarda costeira dos Estados Unidos, e universidades públicas brasileiras também colaboram para tentar identificar as causas do vazamento. Na Polícia Federal, uma investigação foi aberta no Rio Grande do Norte, no início de outubro. A instituição não comentará o assunto enquanto as investigações estiverem em andamento. Mesmo sendo de origem estrangeira, os responsáveis pelo vazamento estão sujeitos a multas de até R$ 50 milhões, de acordo com a Lei de Crimes Ambientais.
Como o óleo chegou ao litoral nordestino?
Segundo especialistas, é provável que a mancha de óleo tenha sido trazida até a costa brasileira pela corrente marítima Sul Equatorial, que se forma no meio do Oceano Atlântico, a meio caminho entre a América do Sul e a África. Já próximo à costa, a corrente se bifurca em outras duas: a das Guianas, que segue no sentido Norte, e a Corrente do Brasil, que desce próxima ao litoral brasileiro, no sentido sul. Entre os meses de agosto e setembro, as duas correntes marítimas banham a região e podem ter transportado o óleo pelo litoral nordestino.
Quais os prejuízos ao meio ambiente?
De acordo com o último boletim do Ibama, 39 animais foram conhecidamente afetados, entre aves, répteis e animais marinhos. As mais afetadas foram as tartarugas: 18 foram encontradas mortas e outras 11 estavam oleadas. Preventivamente, integrantes do Projeto Tamar, que trabalha na proteção ambiental, capturou mais de 2 mil filhotes de tartarugas marinhas na Bahia e 624 filhotes em Sergipe. Os riscos futuros para o meio ambiente ainda estão sendo estudados, mas oceanógrafos têm alertado que os efeitos podem perdurar por anos. Atividades de pesca e mariscagem estão suspensas na região. Pescadores artesanais irão receber uma parcela extraordinária do seguro-defeso em novembro, conforme anunciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na terça-feira (22).
Quais os riscos para banhistas e pessoas que trabalham na limpeza das praias?
O Ibama recomenda que se evite qualquer contato ou manuseio do material e que o banhista comunique a ocorrência imediatamente ao órgão ambiental local ao identificar manchas na praia ou animais oleados. Os animais não devem ser lavados e devolvidos ao mar. Em caso de contato com a pele, a recomendação é que a pessoa passe na região afetada primeiro gelo ou óleo de cozinha, antes de lavar com água e sabão. Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, podem ocorrer irritações na pele e alergias. A inalação de vapores advindos do óleo cru também pode causar dificuldades de respiração, dor de cabeça ou náusea. Em caso de ingestão, pode haver dores abdominais, vômito e diarreia.
*Com informações de Agência Brasil, Ibama, Marinha e Polícia Federal