O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer nesta terça-feira (8) que as manchas de petróleo que atingem o litoral do Nordeste desde o mês passado podem ter sido despejadas "criminosamente".
— É um volume que não está sendo constante. Se fosse de um navio que tivesse afundado estaria saindo ainda óleo. Parece que criminosamente algo foi despejado lá — disse, ao deixar o Palácio da Alvorada, após reunião com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
As manchas já atingem o litoral de todos os estados do Nordeste e seguem se movimentando pela costa brasileira. Trata-se de petróleo cru, ou seja, não se origina de nenhum derivado de óleo, como gasolina e outros. De acordo com Bolsonaro, a densidade da substância é "um pouquinho maior" que a água salgada, por isso, quando no mar, fica submersa.
O ministro Ricardo Salles também explicou que o movimento do óleo tem sido de ida e volta do mar para a costa. "Nosso papel é agir rápido para retirar aquilo que está em solo", disse o ministro. Mais de 100 toneladas de borra de petróleo já foram recolhidas, de acordo com Salles.
Nesta terça-feira (7), após reunião de emergência sobre o assunto no Ministério da Defesa, o presidente Bolsonaro destacou que o óleo não é produzido e nem comercializado no Brasil e que há uma suspeita sobre o seu país de origem. Hoje, perguntado novamente, ele voltou a dizer que essa é uma informação reservada.
— Eu não posso acusar um país e vai que não é aquele, vai. Eu não quero criar um problema com outros países — disse.
Histórico do caso
Manchas de óleo começaram a aparecer em praias do Nordeste no início de setembro. Uma análise do material encontrado feita pela Petrobras e pela Marinha constatou que o produto é petróleo e que não é brasileiro.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mais de 100 toneladas de borra de petróleo foram recolhidas no litoral nordestino desde o início do mês passado. Em decorrência do surgimento de manchas também na Bahia, na última quinta-feira (3), o presidente Jair Bolsonaro determinou que a Polícia Federal, o comando da Marinha e o Ministério do Meio Ambiente investiguem as causas e as responsabilidades do aparecimento das manchas.
A determinação foi publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) no sábado (5) e, segundo o texto, as informações coletadas e as providências adotadas pelos órgãos responsáveis deveriam ser apresentadas à Presidência da República em 48 horas.
A principal hipótese, até o momento, é de que um navio estrangeiro tenha descartado de forma irregular o óleo ou que tenha havido vazamento. Uma imagem de satélite que registra suposto navio na costa pernambucana no início de setembro pode ajudar a desvendar a origem das manchas de óleo.
O grupo que analisa o caso, composto por órgãos ambientais estaduais e federais e pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), identificou um ponto em alto mar com uma mancha ao lado. Ainda não há resultado conclusivo. A grande dificuldade é a qualidade da imagem, que foi aproximada para se analisar ponto a ponto.
Sobre os riscos para a saúde, a dermatologista Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que o contato de banhistas e pescadores com o óleo pode causar irritações na pele e alergias.
— Os dois principais riscos para a pele são a reação alérgica, que pode gerar coceira e vermelhidão e a formação de acnes de oclusão, ou seja, acnes geradas pelo excesso de óleo na pele, similar a quando se passa produtos oleosos demais como os protetores solares.
Romiti destaca que se deve tomar cuidado com a região dos olhos, nariz e boca. Ela orienta que, em caso de contato com o material e eventual irritação na pele, deve-se procurar um dermatologista para o tratamento, que varia do uso de pomadas e sabonetes específicos à prescrição de remédios de ingestão oral.
Em nota, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibama corrobora a versão da dermatologista e acrescenta que o petróleo cru "pode conter compostos considerados cancerígenos".
Até o momento, 133 locais foram atingidos pelas manchas de óleo. Veja abaixo a lista completa e a classificação de cada local segundo o MMA (Ministério do Meio Ambiente).
Classificação das praias atingidas segundo ministério
- Em limpeza: Onze praias estão em processo de limpeza, segundo dados atualizados pelo Ministério do Meio Ambiente.
- Não observado: os dados atualizados classificam 48 locais em que não foram observados vestígios do óleo, o que quer dizer que a limpeza se deu de forma natural.
- Oleadas com manchas: seis locais estão classificados como oleados com manchas, o que indica que a porcentagem da cobertura de óleo no local analisado varia de 11% a 50%.
- Oleadas com vestígios/esparsos : a lista indica que 68 locais contém óleo esparso e vestígios de óleo, com cobertura que pode ser inferior a 1%, chegando a, no máximo, 10%.