Um dia antes de milhares de jovens tomarem as ruas de Nova York (EUA) para protestar contra a falata de ação dos governos frente às mudanças climáticas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve se reunir em Washington com representantes de um dos principais grupos de opositores do consenso científico a respeito do aquecimento global.
Na agenda preliminar do ministro consta uma reunião com representantes do Competitive Enterprise Institute (CEI) na sede da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, em Washington, na quinta-feira da semana que vem (19).
O CEI se descreve como uma entidade que questiona o alarmismo sobre o aquecimento global e opõe-se ao Acordo do Clima de Paris, protocolo de Kyoto e a regulação para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Em uma de suas últimas ações, o instituto fez uma petição à Nasa pedindo que a agência espacial tire de seu website um texto dizendo que 97% dos cientistas concordam que os humanos são responsáveis pelo aquecimento global.
No dia seguinte ao encontro de Salles com o CEI, começa em Nova York a Climate Week, maior foro de discussões sobre medidas para combater as mudanças climáticas. Além de protestos organizados por jovens como a ativista Greta Thunberg, sueca de 16 anos que velejou da Europa até Nova York, onde ocorrerá a Cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) para Ação Climática, dia 23, às margens da Assembleia geral da ONU. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) deve fazer o discurso de abertura da assembleia, no dia 24, seguindo a praxe a assembleia é sempre inaugurada pelo discurso do presidente do Brasil.
O diretor de ambiente do CEI, Myron Ebell, que deve participar da reunião com Salles, é chamado pela imprensa de inimigo número 1 da comunidade das mudanças climáticas algo que o próprio instituto cita na biografia de Ebell. Em julho, o Itamaraty já havia enviado um diplomata para participar de uma conferência com Ebell e outros lobistas contrários às ações ambientais.
Na agenda de Salles constam também, no mesmo dia, reunião com o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Andrew Wheeler, almoço com o presidente da US Chamber of Commerce e entrevistas para a Bloomberg e Reuters.
Procurada por telefone e e-mail, a assessoria do ministério não retornou a pedidos de informação da reportagem.