Em entrevista a GaúchaZH, nesta quinta-feira (22), o diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), André Hassen, explica que a chuva que caiu no Estado ajudou a reduzir os focos de incêndio na região amazônica. Porém, ele diz que a área sofre o impacto do fogo nos vizinhos, Rondônia e Amazonas, e de países como Peru e Bolívia, onde a floresta também queima.
Feijó chegou a ser considerada "vermelha" nos mapas de monitoramento. Era o município com o maior número de foco de incêndio no Acre e o quinto da região Norte. Hassen atribuiu a uma coincidência: moradores queimando quintais e o fogo na área rural. Leia os principais trechos.
Como está a situação das queimadas no Acre?
Graças a Deus, muita chuva caiu (na terça-feira). Itamaracá até Sena Madureira. O (fogo) que tinha começado, a água apagou. Mas estamos com equipe em campo lá em relação às derrubadas de árvores e para evitar queimadas, porque lá foi o município onde mais se alastrou: Feijó.
Como está a situação em Feijó, que chegou a ser o município com maior número de focos de incêndio no Estado e o quinto da região Norte?
Graças a Deus anteontem (terça-feira) caiu um dilúvio lá. Foram 12 horas de chuva, e a equipe (do governo do Estado) está lá com helicópteros para evitar as derrubadas. Toda a região de Juruá, desde Manoel Urbano, Sena Madureira, Feijó, estamos com equipe toda lá.
Quantas pessoas estão trabalhando no combate aos incêndios?
Só em Feijó são 30 pessoas. Juntamente com o Ibama, mais 28 pessoas em Sena Madureira e Manoel Urbano. A chuva também ajudou muito. O Ibama está com um helicóptero e o governo do Estado com outro, para reconhecimento. A água, Deus mandou.
E como estão outras regiões do Acre?
Outras regiões foram menos afetadas. Fomos logo para Feijó porque era a quinta cidade do país e a primeira do Acre (com maior número de focos de incêndio). Qual era a problemática? A população resolveu queimar tanto os quintais quanto a área rural em tempo real. Praticamente nos mesmos dias. Então, Feijó ficou vermelha (nos mapas de monitoramento), queimando nos fundos dos quintais, que é costume, e a zona rural também começando a queimar. Mas, graças a Deus estamos com equipe toda lá, com rádios, usando os meios de comunicação, com equipe do Batalhão Ambiental do Estado, do Imac, junto com todas as entidades, fazendo conscientização e de autuação.
O presidente Jair Bolsonaro acusou ONGs de estarem por trás dos incêndios na Amazônia. Os senhores percebem algum indício desse tipo?
Já está havendo uma investigação muito grande e estamos esperando o resultado dela.
E a fumaça, como está?
Choveu ontem (quarta-feira) em Rio Branco. Melhorou muito o Estado. O melhor é que, na área mais crítica, foi muita chuva. Doze horas de chuva, parecia chuva de inverno.
Quantos hectares estão queimados nessa área mais atingida?
Temos 126 pontos que estão sendo visitados de derrubadas e queimadas na beira da estrada. Passou do limite porque as pessoas resolveram queimar os quintais. Foi uma coisa inusitada, resolveram queimar tudo ao mesmo tempo.
Explique, por favor: por que as pessoas queimam os quintais?
Eles limpam e, em vez de chamar a Secretaria de Meio Ambiente, queimam atrás de seu próprio quintal.
Qual a sua opinião sobre as declarações do presidente Bolsonaro, segundo as quais governadores são "coniventes" com o desmatamento?
Quero te dizer que o governador Gladson de Lima Cameli (PP) está dando total apoio a nossas equipes, dando resposta. Estamos em campo com todos os órgãos de fiscalização. O Acre está 80% intacto. Nossa reserva legal está intacta. Temos 1 milhão de hectares de área consolidada para trabalhar o agronegócio. O Acre não precisa derrubar nem desmatar, muito menos queimar, que é ilegal, para que as pessoas possam trabalhar. Lançamos há 12 meses o Agrofloresta, que mantém a floresta em pé. Quem tem passivo ambiental, que cometeu crime dentro da reserva, depois de 2008, pode hoje aderir ao programa Fique Legal, do Imac, que represento. Tem 20 anos para regularizar e escolher a forma de subsistência para que ele possa plantar e trabalhar com sua família na sua área.
Os senhores estão acostumados com esse tipo de emergência, não?
O Acre é diferenciado. Somos da região Norte, o Estado que mais mantém sua reserva legal e que trabalha mais conscientização e dá mais resposta à sociedade. O problema é que estamos cercados por Amazonas, Rondônia, Bolívia e Peru. Então, o foco de fumaça se alastrou muito pelo nosso Estado.
É parecido com anos anteriores ou maior?
Não é parecido. Na verdade, é igual, mas alarmou muito porque os Estados vizinhos e o Peru e a Bolívia estão queimando muito. Nós ficamos no centro. Na Bolívia, tem queimada de 5 mil hectares. A corrente de ar trouxe a fumaça toda para o nosso Estado.
O senhor está preocupado?
Estamos preocupados, mas como Deus nos abençoou, na região mais afetada, com um dia de chuva... Como nossa equipe está em campo, o fogo não se alastrou mais. Choveu onde tinha as derrubadas. E a equipe agora entrou em busca dos pontos monitorados em tempo real. Agora, estamos entrando em busca das derrubadas para evitar as queimadas. Já vamos autuando e, se necessário, comunicando o Ministério Público: área federal, o MPF. Em área estadual, MPE. Com isso, a gente já vai evitando as queimadas.
Há comunidades indígenas na região afetada?
Tem comunidade indígena no Juruá e no Feijó. Muitas comunidades indígenas onde estamos. Também em Taraocá, onde nossa equipe está. Estamos com (apoio) aéreo em toda a parte ribeirinha, fazendo levantamentos e trabalhando dentro das aldeias para que nos informem também para que não deixem queimar. Não há relatos de comunidades indígenas atingidas.