Foi como se estivesse tudo bem na agenda climática brasileira: no discurso dos representantes de cada país na 24ª Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP24), na Polônia, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, sequer mencionou a decisão de não sediar a próxima conferência. Tampouco falou sobre boa parte dos problemas que têm feito o país deixar de ser visto, especialmente por observadores internacionais, como referência no combate ao aquecimento global (entre eles, a falta de protagonismo do país nas discussões climáticas ou declarações polêmicas sobre o tema que pegaram mal, por exemplo).
Em seu último discurso no cargo em conferência deste tipo – o presidente eleito Jair Bolsonaro anunciou, no domingo (9), que Ricardo Salles vai comandar a pasta –, Duarte exaltou alguns feitos nacionais, mas praticamente ignorou os atuais e os possíveis problemas futuros.
Em pronunciamento nesta quarta-feira (12), o titular da pasta mostrou que o país tem avançado nas ações de combate às mudanças climáticas e está no caminho para cumprir as metas voluntárias de redução de emissões de gases de efeito estufa. Na terça-feira (11), na própria COP24, o Brasil anunciou que alcançou sua meta proposta para 2020.
— Chegamos com a segurança de quem está procurando fazer a sua parte. Um país que reconhece a sua responsabilidade histórica. O trabalho realizado durante uma década (2006-2015) no combate ao desmatamento da Amazônia reduziu as emissões em 6 bilhões de toneladas de CO2. Nos últimos três anos, foram reduzidos outros 3,9 bilhões de toneladas — afirmou Duarte.
Mas o ministro também reconheceu, brevemente, que o Brasil deu alguns passos atrás: o desmatamento na Amazônia, por exemplo, aumentou 13,7% entre agosto de 2017 e julho deste ano. Os Estados que apresentaram os índices mais elevados de desmatamento foram Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.
— O Brasil está próximo de atingir a meta de redução de 80% no desmatamento na Amazônia até 2020, apesar de o desmatamento observado em 2018 ter apresentado aumento em relação ano anterior — observou o titular do Ministério do Meio Ambiente.
Ao concluir sua fala, Edson Duarte, em meio a preocupações internacionais quanto à participação efetiva do Brasil, agora e no futuro, no combate às mudanças climáticas, passou a bola adiante:
— O Brasil não poupou esforços para chegar até aqui. Precisamos aumentar a escala da ambição, e para isso, todos precisam contribuir. Conclamo todos a acelerar suas transições para economias de baixo carbono e a estimular a participação de todos os setores da sociedade a fim de criarmos o futuro que queremos.
A conferência do clima promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o maior evento do mundo sobre a temática ambiental, segue até sexta-feira (14) em Katowice, na Polônia.
* O repórter viajou à Polônia para a COP24 como integrante do Climate Change Media Partnership 2018, uma colaboração entre a Earth Journalism Network e a Stanley Foundation.