Doutora em Biologia Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisadora e diretora de pesquisa do Instituto Australis de Pesquisa e Monitoramento Ambiental e do Programa de Pesquisa e Conservação da baleia-franca-austral, a bióloga Karina Groch acompanhou de perto a discussão e votação sobre a proposta de liberar a caça comercial às baleias. Comemorando a derrota da iniciativa, ela conversou com o Diário Catarinense sobre os impactos da caça e os desafios na preservação das espécies.
Qual o impacto que a caça às baleias traz para as populações remanescentes dessas espécies?
A remoção destes indivíduos da natureza gera um desequilíbrio. A maioria das baleias ainda são ameaçadas de extinção e elas têm um papel fundamental nos oceanos, na
ciclagem de nutrientes e em diversas funções que cada espécie do animal faz no ecossistema marinho.
Mesmo a caça para fins científicos é tão prejudicial?
A caça científica como a que o Japão faz, matando as baleias, não pode ser aceita. Desenvolvemos ao longo dos anos métodos de pesquisa científica não letal, que garante que a gente possa ter informação sobre as espécies sem precisar matar.
Qual a importância das baleias para o ecossistema marinho?
Elas têm um papel no ecossistema. As fezes delas alimentam, são nutrientes para outros organismos marinhos. Assim como a remoção de qualquer espécie animal.
A natureza se encarrega de equilibrar, inclusive, quando tem muito e quando tem pouco. A gente provocando uma alteração, causa o desequilíbrio, que nem sempre a natureza consegue compensar.
O que a pesquisa científica não letal nos revela e traz de avanço nos estudos sobre as baleias?
A gente consegue conhecer os animais, o ambiente que eles ocupam, seu ciclo reprodutivo, sem precisar matar. Consegue com técnicas que foram desenvolvidas a partir das próprias características das baleias, como reconhecimento individual ou mesmo com a colocação de transmissores. Com essas ferramentas, conseguimos descobrir para onde elas vão, quantos filhotes têm, que são informações fundamentais para estabelecer, por exemplo, estimativas populacionais, que é uma das grandes questões. Será que essas espécies que foram fortemente caçadas, estão conseguindo se recuperar? De que forma?
Santa Catarina recebe visitas de muitas baleias. Há um monitoramento contínuo disso?
A gente do Projeto Baleia Franca, com o Instituto Australis, faz a pesquisa e monitoramento das espécies já há 36 anos da baleia franca austral, que é a que frequenta o nosso litoral em seu período reprodutivo, de julho a novembro. Então com sobrevoos conseguimos monitorar a população, além da observação a partir de terra, que é feita ao longo diversos pontos. A preservação tem muitos desafios ainda na costa catarinense, que é muito ocupada, e a gente tem que trabalhar para que todas as ações em terra não repercutam negativamente para o ambiente que as baleias vem.
O grande desafio para os pesquisadores ainda é garantir que as populações das espécies se recuperem?
Sem dúvida. A gente tem algumas espécies como a baleia-franca-austral que ainda são ameaçadas de extinção, que têm números populacionais extremamente baixos, cerca de 10% a 15% no hemisfério Sul do total que existia antes da caça. Então a gente precisa continuar trabalhando para garantir que essa espécie continue se recuperando e saia da lista de espécies ameaçadas de extinção.
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