
A concessão do Parque do Palácio, reduto verde localizado na entrada de Canela, deve atingir no máximo dois hectares, dos nove sob administração do município da serra gaúcha. É o que garantiu o secretário de Turismo, Angelo Sanches, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade nesta segunda-feira (30). A proposta tem gerado impasse diante das manifestações de grupos contrários ao repasse da área à iniciativa privada.
O terreno, no entorno do Solar das Hortênsias, residência oficial de verão do governador, pertencia inicialmente ao Estado. Em 2010, foi repassado ao município com a condição de que um centro de eventos fosse construído no espaço. Após um período fechado ao público por dificuldade de manutenção, o parque reabriu em 2017, na administração do atual prefeito, Constantino Orsolin (MDB). O secretário de Turismo, no entanto, afirma que a área sofre com problemas de estrutura e insegurança.
— A cabine de quem toma conta foi arrombada cinco vezes. Infelizmente hoje não temos controle.
A solução apontada pela prefeitura foi repassar o espaço à iniciativa privada, dentro do programa Canela do Futuro, que também prevê a concessão de outros imóveis do município. Um edital foi aberto em fevereiro e teve como interessada a Villard Empreendimentos Imobiliários, de Balneário Camboriú (SC). Além do centro de eventos, entre as propostas da empresa está a construção de um hotel com 200 apartamentos.
A ideia provocou reações de quem defende a preservação do parque, que conta com araucárias e vegetação típica dos Campos de Cima da Serra. A Associação Amigos do Parque do Palácio realizou um abaixo-assinado virtual para tentar impedir a iniciativa. De acordo com Sônia Guimarães, que integra a associação, a área é um dos últimos redutos com essas características de vegetação na cidade. O grupo defende que o parque seja mantido como está, sem nenhuma construção.
— É uma área de grande valor histórico e há quase 20 anos é o parque público de Canela, porque não existe nenhum outro parque com essas características e por isso somos a favor da preservação e contra a destruição que é iminente — afirma.
Sanches, no entanto, diz que o projeto da prefeitura prevê apenas a construção do centro de eventos, já que a instalação do hotel seria apenas uma possibilidade.
O projeto de lei permitindo a concessão seria votado no dia 9 de julho na Câmara de Vereadores, mas o município acabou retirando a proposta para ampliar o tempo de debate. Uma audiência pública também foi realizada em 26 de junho com a participação de cerca de 250 pessoas, segundo a associação.
Campanha
Para tentar evitar a concessão do parque, a Associação Amigos do Parque do Palácio lançou, na última quarta-feira (25), uma campanha em que compara a concessão com liquidações comuns no comércio. Chamada de Palácio de Ofertas, a ação conta com site, spot de rádio e vídeo.
— O objetivo é engajar as pessoas utilizando o humor. É um tipo de abordagem fácil de viralizar. Estamos lutando há meses contra a "liquidação" do parque sem sermos ouvidos, e com a campanha isso se espalhou rapidamente, em questão de dias, abrindo muitos espaços — afirma Gregório Leal, diretor de criação na agência de publicidade Morya, de Porto Alegre.
O material apresenta animais e espécies vegetais que vivem na área com preços, como se estivessem à venda. Na campanha, feita em parceria com a Associação Amigos do Parque do Palácio, os autores chamam a população para se mobilizar: "Não deixe que liquidem com o Parque do Palácio. Um verdadeiro refúgio verde no coração de Canela, o parque público e aberto à comunidade, está prestes a ser destruído para dar lugar a um hotel, um shopping e um centro de convenções".