Rodovia que inicia no Vale do Sinos, atravessa o Vale do Paranhana e termina no Litoral Norte, a RS-239, carece de estrutura que garanta a segurança de motoristas, pedestres e ciclistas. Zero Hora percorreu na manhã desta quarta-feira (2) o trecho de 38 quilômetros entre Estância Velha e Taquara, onde acidentes têm acontecido com muita frequência. Há problemas na sinalização, falta de controladores de velocidade, passarelas e calçadas.
O número de ocorrências graves, no trecho mais do que dobrou neste ano. Até setembro foram 15 mortes, enquanto em todo 2023 foram sete. Das 15 mortes, seis foram por atropelamento; um reflexo do alto fluxo de pedestres que passam pela via. Este segmento cruza o perímetro urbano de seis municípios: Novo Hamburgo, Campo Bom, Sapiranga, Araricá, Parobé e Taquara. Em todos eles, a estrada divide bairros e serve de trajeto para a população, que em distâncias menores, opta por se deslocar a pé ou de bicicleta.
Apesar dessa característica, a rodovia não apresenta estrutura adequada para pedestres. Em alguns pontos com grande circulação de pessoas, não há calçadas, os obrigando a caminhar pelo estreito acostamento, próximo dos carros. No km 15, em Novo Hamburgo, Vinicius Rodrigues se arrisca para ir até o trabalho, em uma loja de ferramentas.
— Eu fico com medo ali, não tem como se proteger. Ainda mais quando está chovendo, porque o pessoal vem muito rápido — afirma.
Em muitos locais não há alternativas seguras de travessia para pedestres. Entre Novo Hamburgo e Taquara há apenas três passarelas e 27 faixas de pedestre. Mas trechos importantes não são contemplados, como o do km 27, em Sapiranga, onde Anna Gonchoroski, 66 anos, foi atropelada e morta no dia 24 de setembro. A região é próxima ao bairro São Luiz, um dos mais populosos do município.
— Às vezes tu leva 15, 20 minutos pra atravessar. Se tu vai atravessar meio ligeiro não dá, porque os caras passam direto — reclama Adenir Gonçalves, 56 anos, logo após atravessar as duas pistas da RS-239.
Para os motoristas, a principal ausência é a de placas na via. A reportagem observou diversos retornos que apresentam pouca ou nenhuma sinalização. A rodovia apresenta diversos cruzamentos com ruas locais, onde passam muitos veículos. Por conta disso, há uma demanda da população por mais controladores de velocidade próximos aos acessos. Há 13 atualmente na rodovia, e um novo deve ser instalado em Novo Hamburgo até o final do ano.
— Se fossem colocados mais redutores de velocidade e mais sinalização, mais placas, eu acredito que facilitaria muito para o pessoal que vem de dentro das cidades, teria mais facilidade de sair da faixa — opina Diego Franco de Moura, 39 anos, enquanto abastecia seu carro em um posto de combustível de Taquara.
Ao longo da blitz, a reportagem constatou algumas falhas que podem comprometer a fluidez na rodovia e agravar o risco de acidentes.
O que dizem as autoridades
O trecho de cerca de 70 quilômetros, entre Estância Velha e Riozinho da RS-239 é pedagiada e administrada pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). A estatal afirmou que vem tomando medidas para aumentar a segurança viária da estrada. Uma delas é a redução do limite de velocidade de 80 km/h para 60 km/h entre os quilômetros entre os quilômetros 25 e 28, em Sapiranga, e no quilômetro 22 em Campo Bom. A alteração deve ocorrer entre sexta-feira (4) e segunda-feira (7).
O diretor-presidente da EGR, Luís Fernando Vanacôr, garante que a empresa tem trabalhado na sinalização no trecho Novo Hamburgo-Taquara, com a colocação de placas e pintura de trechos da via. Sobre a colocação de passarelas e construção de calçadas, ele afirma ser necessário um diálogo com os municípios.
— É uma avaliação que depende também das prefeituras. As passarelas são passagens pontuais, que precisam estar em pontos de grande movimento. O quilômetro 27, por exemplo, está se transformando em um ponto de concentração. Nós estamos sempre avaliando e não descartamos fazer novas passarelas, mas dependemos sempre da conferência dos municípios, que vão saber nos dizer melhor onde há mais movimento — afirma
O comandante do 3º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar, major Diego Caetano de Souza, afirma que, além de medidas de engenharia que devem ser aprimoradas, a fiscalização foi aumentada para verificar principalmente o excesso de velocidade na via.
— Às vezes flagramos motoristas passando a 120 quilômetros por hora. Por isso é fundamental implementar medidas como a redução da velocidade, para que possamos intensificar a fiscalização — comenta.
A RS-239 ainda compreende um trecho de pista simples, entre o bairro Empresa, em Taquara, e as cidades de Rolante e Riozinho. Desta última até o distrito de Barra do Ouro, em Maquiné, a rodovia não é pavimentada e atravessa uma região de serra, com partes íngremes e sinuosas. A extensão completa da rodovia é de 110 quilômetros.