Principal acesso dos países do Mercosul ao Brasil, a BR-290 tem cerca de 630 quilômetros de Porto Alegre a Uruguaiana. No lado brasileiro, a rodovia termina no meio da Ponte Internacional Getúlio Vargas/Agustín Pedro Justo, no quilômetro 726, que liga a cidade gaúcha da Fronteira Oeste à argentina Paso de los Libres.
Nos dias 15, 16 e 17 de maio, a reportagem percorreu a BR-290 para apontar os principais desafios aos condutores e as perspectivas de melhoria para a estrada — o que inclui um diagnóstico da estrutura construída na década de 1940, que foi a primeira travessia entre Brasil e Argentina.
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A construção leva o nome dos presidentes dos dois países à época do lançamento da pedra fundamental. O combinado era de que a estrutura seria dividida em duas partes iguais, usando ferro brasileiro e cimento argentino. A inauguração, comemorada principalmente por comerciantes da região, foi em maio de 1947. Desde então, o movimento sobre a ponte aumentou, mas as pistas não foram ampliadas. Ao mesmo tempo, uma via-férrea, onde passava um trilho de trem, foi desativada e hoje está coberta por vegetação.
— Foi planejada para um trânsito vicinal e muito pequeno se comparado com o que cruza hoje. Não estava nos sonhos de ninguém que cruzariam, pelo menos, 20 mil caminhões por mês — conta a diretora-executiva da Associação Brasileira dos Transportadores Internacionais, Gladys Vinci.
As intempéries do tempo e a sobrecarga de veículos sobre a ponte cobraram seu preço e, em setembro do ano passado, a estrutura apresentou um rompimento na laje, na região central do arco de acesso. Em março deste ano, houve uma cerimônia de entrega da restauração emergencial do trecho. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram investidos mais de R$ 6,3 milhões em serviços de recuperação da laje, viga e o reforço dos pilares.
O asfalto foi renovado, e o guarda-corpo, pintado. Porém, passados alguns metros da parte revitalizada em direção à Argentina, já ficam evidentes buracos, sinalização apagada na pista e guarda-corpo danificado. O Dnit destaca que "no lado brasileiro da Ponte Internacional de Uruguaiana não há buracos no pavimento no momento e, quando surgem, a empresa responsável pela manutenção da rodovia realiza o reparo o mais breve possível", e garante que "a sinalização é presente na ponte".
A estrutura não tem acostamento e a pista é simples nos dois sentidos. Logo, motoristas de veículos de passeio e do transporte internacional de cargas trafegam pela mesma faixa, e não é incomum ver condutores dos veículos menores ultrapassando caminhões de maneira irregular. O Dnit informou, em nota, que, "no que diz respeito à previsão de duplicação da ponte de Uruguaiana, o DNIT analisa uma reabilitação com alargamento da seção transversal. Há um projeto brasileiro pronto e estão sendo aguardadas as considerações do lado argentino para prosseguir na contratação das obras".
Gladys sugere uma solução para desafogar o movimento, que se intensifica na época do verão, quando turistas estrangeiros, principalmente argentinos, vêm passar as férias no Brasil:
— Ela tem duas calçadas laterais que não podem ser utilizadas pelos pedestres por uma questão de segurança. Elas poderiam ser retiradas para dar um espaço maior aos veículos.
Gladys também apoia a criação de uma terceira pista que poderia ser liberada para os dois sentidos conforme fluxo ou bloqueios. Para isso, sugere um aproveitamento da estrutura que abriga o trilho desativado.
Principal corredor rodoviário de mercadorias entre o Brasil e o país vizinho, a Travessia Uruguaiana/Paso de los Libres movimentou US$ 6,24 bilhões de janeiro a setembro de 2022. A cifra representa um terço do volume financeiro total (US$ 20,9 bilhões) registrado pelo comércio exterior entre Brasil e Argentina (maior parceiro comercial do RS e terceiro do país), em igual período, de acordo com dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).