O termo cinco estrelas geralmente é usado para definir hotéis de luxo, com qualidade e bom atendimento. Mas, nos últimos tempos, a procura por pessoas com uma reputação de cinco estrelas também aumentou, especialmente para motoristas de táxi e de aplicativos de transporte, modalidade que popularizou as avaliações de condutores. E, assim, eles se esforçam para conseguir as tão sonhadas cinco estrelas.
A reportagem de GaúchaZH conversou com dois condutores de táxi e dois de aplicativo. Todos estão entre os mais bem avaliados por quem usa os serviços e recebem cinco estrelas em praticamente todas as corridas. Limpeza do veículo, cordialidade com os passageiros e atenção aos detalhes e comportamentos são as táticas dos motoristas cinco estrelas. Eles dão dicas e falam dos hábitos que consideram essenciais para ganharem boas notas.
“Eu tenho um protocolo com o passageiro”
O motorista Marcelo Ricardo de Carvalho Ribeiro, 43 anos, já é famoso pelo bom atendimento. Tanto que foi reconhecido pela plataforma Uber como “o melhor motorista de aplicativo do Brasil”. Antes de transportar pessoas, ele trabalhava na área de vendas. E tentava desvendar como conquistar os clientes. Por isso, Marcelo destaca que, quanto mais informações tiver sobre a pessoa que está transportando, maior é a chance de sucesso. Ele diz, inclusive, que em 15 segundos, consegue traçar um perfil dos passageiros.
– Se um passageiro entrou no meu carro agora, eu vou fazer meu protocolo. Eu vou perguntar se ele tem preferência por trajeto, se o ar está bom, se ele quer uma bala. Se ele responder com dois “sim” ou “aham” e depois deu aquele primeiro silêncio, eu faço mais uma pergunta. Se for "sim" ou "aham" de novo, ele não quer conversar. São sinais.
Sobre oferecer alimentos, balas e água, ou carregador, Marcelo destaca que isso pode ajudar, mas não é fator primordial para obter boa nota.
– Não adianta ter um bom carro ou oferecer várias coisas se não houver um bom atendimento.
Além disso, Marcelo usa uma ferramenta do aplicativo para atiçar a curiosidade dos passageiros: os usuários também são avaliados com os motoristas. Então, ele habitualmente diz aos seus clientes que eles possuem notas boas na plataforma.
– Eu pergunto se ele (ou ela) usa bastante o Uber. Digo que a nota é boa e que meus colegas (motoristas) estão avaliando bem. Isso gera curiosidade. E ele começa a se abrir e falar. E isso gera uma conversa, caso o passageiro queira falar – destaca.
“Eu sou profissional, fidelizo o cliente”
O pai era taxista. O irmão também trabalha na praça. E Rogênio Vidart, 62 anos, trabalha há mais de quatro décadas como taxista em Porto Alegre. Com tanta proximidade com o tema, virou o motorista de táxi mais bem avaliado da Capital pelo aplicativo do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintaxi). Para ele, o segredo das cinco estrelas é o profissionalismo.
– Eu sou profissional. Quando um passageiro entra no meu carro, sou um motorista. Eu dou bom dia ou boa tarde, falo um pouco do tempo e deixo por conta dele. Se ele falar, segue a conversa. E dá certo. Eu tenho passageiros que carreguei a mãe, a filha e as netas. Eu fidelizo o cliente.
O experiente taxista frisa que conversar durante a viagem varia muito de passageiro para passageiro. Entretanto, é enfático ao dizer que "conversar demais faz mal" e que "não é algo bom”. Para ele, é o usuário quem deve ter voz dentro do veículo. Além disso, Rogênio destaca que, apesar das quatro décadas dirigindo táxis pelas ruas de Porto Alegre, está sempre disposto a se atualizar.
– Eu me dedico. Qualquer curso que tenha na EPTC, eu estou fazendo. Fiz curso de turismo, de inglês. O pessoal até me diz: tu tem 40 anos de táxi e está fazendo curso. Mas se eu aprender a abrir melhor a porta para o passageiro, eu estou fazendo. Isso é o principal, saber atender o passageiro. O táxi é um transporte seletivo. O passageiro quer o carro para ele. Eu sou um motorista, só – complementa o taxista, destacando que uma boa apresentação do profissional e a limpeza do veículo são primordiais para o sucesso na nota.
“Seja mais cordial com o próximo. Você está trabalhando com o público”
Ela diz que ama dirigir. Tanto que, assim como muitos condutores, Andressa Thaliase Machado, 28 anos, já trabalhava como motorista dentro de uma empresa antes da chegada dos aplicativos a Porto Alegre. Mas a tecnóloga em Recursos Humanos encontrou nos apps uma boa maneira de seguir com o hobby sem a pressão do antigo emprego. E deu tão certo que Andressa é a condutora mais bem avaliada pela plataforma 99. O sucesso, ela explica, é baseado em cordialidade e educação com o público.
– Eu amo o que faço. E ser educado com as pessoas. As pessoas andam muito estressadas. Então, educação é primordial. Quando o passageiro entra, eu comprimento e vejo se vai cumprimentar de volta. Eu gosto de conversar quando o passageiro dá abertura. Mas quando ele não fala, eu não puxo assunto Seja mais cordial com o próximo. Você está trabalhando com o público.
Conforme ela, uma dica aos demais motoristas é ouvir mais o passageiro do que falar. Além disso, interromper frequentemente a fala do usuário não é algo positivo. Andressa também pondera que entrar em conflito com passageiro durante a conversa não agrega na conquista de uma boa nota.
– Se tu está conversando com uma pessoa e tu fica interrompendo, ela não gosta. Se puder exemplificar, vai levando em um rumo bom. Não é bom discordar do passageiro. Pode ficar um clima ruim, aí é complicado. Vai levando a conversa, mas sem bater de frente – destaca ela.
Além disso, ela diz que a limpeza do veículo é primordial para que os motoristas obtenham boas notas no aplicativo.
– A parte interna, principalmente. Quando tem muita chuva, nem sempre a gente consegue manter o carro limpo fora. Mas por dentro, tem os postos com aspirador. Então é importante deixar limpo.
“Seja gentil e tenha o carro limpo”
Marcelo Souto, 40 anos, já trabalhou de tudo. Quando morava no interior, sonhava em dirigir enquanto vendia lanches para caminhoneiros. Ao se mudar para Porto Alegre, chegou a começar a faculdade de administração, mas teve de abandonar diante da dificuldade em pagar as mensalidades. Pouco depois, tornou-se motorista de táxi. Há nove anos, ele dirige pelas ruas da Capital. A atenção ao carro, que é alugado por ele de um permissionário, e o bom atendimento fazem dele o taxista mais bem avaliado pela plataforma 99 Táxi.
– Eu trabalhei em várias coisas desde novo. Assinei a carteira com 14 anos. Eu sempre aprendi a tentar ser o melhor. Se a oportunidade abrir a ti, seja o melhor. Eu gosto do que faço e estudo a cidade, alguns bairros eu sei a história. Eu acho que ganho nota boa porque sou gentil e tenho o carro em bom estado de trabalho. Eu aspiro ele duas vezes por semana – diz.
Afeito aos detalhes, ele diz que é fundamental estar atento ao carro para deixá-lo sempre nas melhores condições. Marcelo também conta que se vale de critérios para identificar se o passageiro quer ou não falar.
– Seja gente gentil e tenha o carro limpo. E não tente entrar na vida do passageiro. Se ele falar contigo, tu fala com a pessoa. Ficar olhando muito para passageiro não é bom. As pessoas ficam incomodadas. Muitas vezes me pagam por um valor maior porque eu tenho discrição no atendimento.