Um raio de 40 quilômetros de terra sem lei. Na verdade, de estrada sem socorro médico. O jogo de empurra começa dois quilômetros depois do fim trecho da Concepa, na BR-290, em Eldorado do Sul, e vai até a divisa com Arroio dos Ratos. Foi exatamente nesse trecho que aconteceu um grave acidente na manhã desta quinta-feira, deixando três mortos e um ferido e expondo o problema de falta de atendimento adequado aos motoristas que utilizam a rodovia.
O primeiro chamado do acidente foi recebido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), por volta das 8h30min. Inicialmente, a informação era que quatro pessoas estavam feridas. A PRF acionou os bombeiros voluntários. Sete minutos depois, ao constatar a gravidade do acidente, os policias também ligaram, duas vezes, para o Samu. No entanto, a resposta obtida pelo 192 foi que o município de Eldorado do Sul não é conveniado, o que inviabilizaria o socorro.
Acidente deixa três mortos na BR-290 em Eldorado do Sul
- Eu entendendo assim: independentemente de governo ou não, a gente não pode deixar uma pessoa morrendo. Tanto a PRF quanto o serviço de emergência têm de prestar socorro em qualquer lugar, hora, tendo ou não convênio - protesta o inspetor Felipe Barth, chefe da 2ª delegacia da PRF, área que atende a BR-116 e a BR-290 em direção ao interior.
Os bombeiros voluntários atenderam a ocorrência. Um dos ocupantes ainda estava com vida, mas em estado gravíssimo. A própria PRF o levou para o posto de saúde de Eldorado do Sul.
- Se precisássemos de mais ambulâncias para as outras pessoas, que infelizmente já estavam mortas, teríamos três vítimas sem atendimento - acrescenta o inspetor da PRF.
Três pessoas morreram no acidente Foto: Omar Freitas / Agência RBS
Marco Aurélio de Araújo, bombeiro voluntário da cidade, foi ao local do acidente e diz que eles não possuem a estrutura necessária para atender a uma ocorrência de tamanha gravidade.
-Temos apenas uma ambulância que, na verdade, é veículo de resgate. Quando a gente sabe que há mais vítimas, é um problema muito sério. São 40 quilômetros sem atendimento mesmo, porque nós deveríamos atender somente dentro da cidade.
Duas pessoas morrem em acidente em São José do Herval
Saiba quem são os jovens mortos em acidente em São José do Herval
O diretor da Secretaria de Saúde de Eldorado do Sul, Eldio Pereira, admite o hiato existente no trecho, mas explica que o atendimento é realizado pelo posto de saúde da cidade quando o chamado é recebido. Nesse caso, segundo ele, não houve nenhuma ligação.
- Antes, a Univias que fazia o atendimento na estrada, por que ainda era uma área do pedágio. Como a praça foi desativada, quem presta esse serviço agora somos nós. Só que o município não tem convênio com o Samu. Temos ambulâncias, mas não temos uma equipe adequada, dependendo da gravidade do caso. Mas nesse acidente de hoje não recebemos chamado. Teríamos ido - explica Pereira.
Veículo em fuga colide e deixa um morto em Porto Alegre
O Samu de Guaíba, município vizinho a Eldorado do Sul, também atende a mesma estrada e, às vezes, presta socorro, mesmo que seja fora da área territorial da cidade. Às vezes.
- Quem faz a regulamentação do Samu em todos os municípios é o Estado. Sempre que uma pessoa precisa de socorro, ela liga para o 192. O Estado entra, então, em contato com a base mais próxima. Guaíba atende a BR-290 e também o município de Eldorado do Sul. Mas há casos em que a ligação vai para a central, 192, e nós nem somos acionados. E foi o caso de hoje. Se a base de Guaíba tivesse sido notificada, teria atendido a vítima - afirma Fabiane Malanga, diretora administrativa da Secretaria Municipal de Saúde de Guaíba.
Leia as últimas notícias do dia
Procurada, a Secretaria Estadual da Saúde confirmou que o Samu não atende o município de Eldorado do Sul porque o município optou por não ter uma base do serviço. O deslocamento de pacientes fica por conta da prefeitura, que tem apoio dos bombeiros voluntários.
- Há duas semanas, houve outro acidente na região. Ligamos e o Samu disse que iria ver se atenderia. Tivemos de esperar, até que finalmente acabaram atendendo. Nessa região, o que acontece é que não existe padrão, cada dia recebemos uma resposta diferente do Samu - critica o inspetor Felipe Barth.
*Zero Hora