O porto-alegrense não está mais acostumado a caminhar, pois as calçadas são ruins e mal iluminadas. À noite, fica escuro e muitas vias são inseguras. Pouca gente abre mão do conforto do carro ou investe no rodízio de caronas.
Na opinião do sociólogo Eduardo Biavati, convidado para participar da 19ª edição do Diretoria Kzuka, nesta quinta-feira, na Capital, as cidades que promoveram com sucesso seus programas de mobilidade começaram sempre com foco nos pedestres. Por aqui, não poderia ser diferente. A discussão fez parte do evento que reuniu pelo menos uma centena de jovens para falar do futuro da mobilidade urbana.
- Porto Alegre precisa passar por uma redistribuição de prioridades, pois só tem pensado em carros. É preciso de um equilíbrio, pois o trânsito vale para todos - diz ele, que é especialista em educação e segurança no trânsito.
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A garotada jovem é o alvo perfeito para uma conversa sobre alternativas de mobilidade. De preferência, antes que tudo pare. No encontro, Biavati fez questão de mostrar dados que confirmam que, desde 2000, o número de carros mais que dobrou no país. E quanto mais carro, claro, mais trânsito.
- Não se assustem se o próximo tema da redação do Enem ou do vestibular for sobre mobilidade -, alertou à turma que acompanhou atenta à discussão.
O local escolhido para tratar do assunto com a galera foi o Banx, um bar com proposta democrática, que tem espaços dedicados à arte, além de uma pista de skate - liberada para a galera demonstrar suas habilidades durante boa parte do evento. O estudante Rafael Chuiu, de 18 anos, é praticante do esporte e usa, também, as quatro rodinhas como meio de transporte. Anda a pé e de ônibus, mas considera o skate bem mais rápido. O único desejo dele: mais ciclovias.
Muito à vontade, mas não a ponto de arriscar umas manobras, o DJ Capu comandou o bate-papo com Biavati e também com o professor de história Gilberto Kaplan. No som, depois da discussão mais séria, os DJs King Jay e André Sarate deram uma descontraída, e a recepção do Kzuka contou ainda com os grafites do Jotapê, personalizando com spray shapes de skate, roupas e acessórios da galera.
MUDANÇA DE CULTURA
Com o clima criado e a confiança estabelecida, o bate-papo rolou com propriedade. Com relação à (falta de) mobilidade urbana, tanto Biavati quanto Kaplan concordaram que as coisas devem melhorar num futuro próximo. E a crença deles tem motivo: a população começou a perceber que está sendo prejudicada por esses problemas. No evento, os jovens deram mostras de que, apesar de ainda não sentirem na pele o drama, estão preocupados com o que vem pela frente.
- O modelo que temos está esgotado. Porto Alegre, por exemplo, vai parar se as pessoas não mudarem a cultura. E mudança de cultura se faz, se transmite - diz Kaplan, citando as diferenças entre o trânsito da Capital e o de cidades europeias ou daqui mesmo onde é comum que os carros parem para o pedestre atravessar a rua na faixa, por exemplo.
Fora a punição via multas e apreensão de veículos e carteiras de motorista, que é considerada uma das etapas para educação no trânsito, a mudança de comportamento é uma das lições mais importantes. Isso significaria trocar o carro pelo ônibus, por exemplo. Mas aí é o transporte público que precisa ser mais eficiente e, quem sabe, mais atrativo a quem não abre mão do conforto do carro.
- Acredito que as pessoas não se queixariam de pagar mais caro pela passagem, desde que o sistema de transporte fosse confortável, com boas condições para o usuário, e previsível [em termos de informações sobre a linha e horários] - explica o sociólogo.
Além disso, Biavati, que é ciclista, reclama da convivência nada pacífica entre diferentes veículos nas ruas da Capital. Tem medo de ir pelo asfalto com sua bike e compartilhar a via com os carros, principalmente por causa da velocidade de alguns motoristas. Na Europa, onde a convivência desse tipo rola sem problemas, o velocímetro não pode marcar mais de 40 quilômetros por hora.
Veja como foi a cobertura ao vivo:
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Confira as fotos do evento:
