A parcela de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o país que já enfrentou situações ofensivas ou discriminatórias na internet e que as deixaram chateadas atingiu 29% do total. Além disso, 83% deste público têm perfil em redes sociais. Os dados são da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), divulgados nesta quarta-feira (23).
Ainda conforme o levantamento, 30% dessas crianças e adolescentes já tiveram contato com algum desconhecido na internet.
— Os mais velhos (entre crianças e adolescentes) são mais assíduos, eles estão mais expostos aos riscos na internet. E os meios em que esse contato acontece são principalmente pelas redes sociais, por trocas de mensagens instantâneas — disse Luísa Adib, coordenadora da pesquisa.
Os dados aponta ainda para o uso excessivo da internet. Cerca de 24% dos ouvidos revelaram que gostariam de passar menos tempo acessando a rede, mas não conseguiram fazê-lo.
Outros 22% disseram que se viram navegando na internet sem realmente estar interessado em nada. A mesma quantidade de crianças e adolescentes (22%) também afirmou que ficou muito tempo navegando, o que a impediu de fazer a lição de casa ou de passar mais tempo com a família e os amigos.
Acesso à internet
O estudo apontou ainda que o número de crianças e adolescentes com acesso à internet se manteve com certa estabilidade, com um pequeno declínio em 2024 em comparação ao ano passado.
Segundo o estudo, 93% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de todo o país são usuárias de internet no Brasil, pouco abaixo do que a pesquisa apontou no ano passado (95%). Esse acesso é maior na região Sul, onde a quase totalidade das crianças e adolescentes (98%) declararam ter acesso à rede. Já a região Norte concentra a menor porcentagem de acesso do país, com 85%.
Essa desigualdade também se manifesta entre as classes sociais. Se entre as crianças e adolescentes das classes A e B o acesso é praticamente total (99%), entre as crianças das classes D e E ele fica em torno de 91%. Já na classe C, isso corresponde a 93%.
Já em relação aos que disseram nunca ter acessado a internet, houve uma queda: se no ano passado, esse público correspondia a 580 mil pessoas, em 2024 um total de 492.393 pessoas revelaram nunca ter acessado a rede.
— Se a gente considera a margem de erro, a gente está em um cenário de estabilidade. Mas há disparidades: cerca de 2 milhões de crianças e adolescentes na faixa de 9 a 17 anos não é usuária de internet ou porque nunca acessou ou não a acessou nos últimos três meses — disse Luísa.
Além disso, acrescentou ela, o acesso por dispositivos também não é igualitário. Crianças de classes A e B acessam por dispositivos e locais variados.
De onde acessam?
O acesso à internet é feito geralmente em casa, tanto pelas crianças e adolescentes das classes A e B (100%) quanto entre as crianças das classes C (100%) e das classes D e E (97%). Isso aponta para uma falta de melhor infraestrutura nas escolas, já que o acesso nesses locais é 56% (entre o público das classes A e B), 56% (na classe C) e de apenas 44% (entre as classes D e E).
— Hoje a gente já tem muitas atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação, então a gente precisa garantir o direito para todas as crianças, de forma igualitária, para que elas usufruam [destes benefícios] — pontua a coordenadora.
Para a pesquisa foram ouvidas 2.424 crianças e adolescentes de todo o país, com idades entre 9 e 17 anos e 2.424 pais ou responsáveis. O estudo foi realizado entre março e julho deste ano. O TIC Kids Online Brasil é feito anualmente desde 2012 e só não foi realizada em 2020 por causa da pandemia de covid-19.