“Não importa se você está pensando em adotar, está em processo de adoção ou já adotou. Estou aqui para ouvir suas dúvidas, medos e expectativas. Como posso te ajudar hoje?”.
Essa é a apresentação da Ágape, a inteligência artificial (IA) do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) criada para dar suporte no processo de adoção de crianças e adolescentes no Estado. O lançamento ocorreu nesta sexta-feira (4), na sede da instituição em Porto Alegre. O nome significa “amor ” em grego.
A tecnologia funciona do mesmo modo que o ChatGPT: o usuário envia uma mensagem com um questionamento e a IA responde. O dispositivo pode ser acessado de forma gratuita neste link e não há necessidade de cadastro.
O assistente virtual é uma parceria entre o MP e a WideLabs, uma empresa especializada em inteligência artificial.
— Muitas vezes, a adoção demora porque a pessoa está com dúvida ou tem medo de expor uma situação pessoal perante um juiz, ou promotor. A inteligência artificial vai ajudar a diminuir a angústia e mostrar o caminho para quem está disposto a adotar, o que facilita o processo — explica Alexandre Saltz, procurador-geral de Justiça.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), existem cerca de 400 crianças e adolescentes à espera uma nova família no Estado.
Reduzir essa fila é um dos objetivos da IA, mas não o único, segundo Cinara Vianna Dutra Braga, promotora da Infância e Juventude de Porto Alegre:
— É uma ferramenta que também vai ajudar a evitar devoluções. Vemos que problemas pequenos que frustram a adoção poderiam ser resolvidos se as questões fossem esclarecidas no momento correto. A Ágape vai atenuar a ansiedade de quem está ou planeja entrar no processo.
A IA não pede dados pessoais dos usuários e o conteúdo é confidencial, conforme o MP. Segundo a promotora, as respostas são criadas a partir de uma base de dados oficial, que inclui a legislação brasileira, orientações técnicas, materiais didáticos e protocolos psicológicos.
Adoção para todos
Os conteúdos são também abastecidos com a experiência e as informações da ELO, um grupo de apoio à adoção que atua no Estado. O presidente da organização, Peterson Rodrigues, que adotou uma criança de nove anos em 2013, relata ter vivido um cenário de incertezas antes de se tornar pai.
— Eu achava que não poderia adotar uma criança porque sou gay, tinha pouco conhecimento da legislação e não sabia como funcionava o sistema. A inteligência artificial vai ajudar muitas pessoas que têm essas mesmas questões e dúvidas. Também é importante porque é uma ferramenta que trabalha com o princípio do não julgamento — afirma.
Segundo o MP, a ferramenta não terá custos para o poder público porque faz parte de um termo de cooperação com a empresa desenvolvedora, uma das vencedoras de um edital aberto para a criação de modelos de IA. Em contrapartida, a WideLabs poderá comercializar a tecnologia.
— Ao criar soluções de IA como a Ágape, queremos não só apoiar processos burocráticos, mas também trazer mais humanidade e cuidado para as questões mais delicadas da sociedade, como a adoção — pontua Marcelo Chapper, sócio da WideLabs.