O chamado “jogo do tigrinho” tem inundado redes sociais enquanto acumula relatos de prejuízo financeiro e vira assunto de polícia no Brasil. Com nome oficial de Fortune Tiger – ou “tigre da fortuna”, em uma tradução livre do inglês: o game funciona como um cassino online oferecido em diversos sites, no qual o usuário deve depositar dinheiro para participar. A PG Soft, de Malta, na Europa, é a responsável pela plataforma.
A exploração de jogos do gênero é proibida no Brasil. Nesta semana, duas operações policiais foram feitas nos Estados de São Paulo e Alagoas, que tiveram como alvos influencers que divulgam a plataforma nas redes sociais. Especialistas em saúde mental alertam que o jogo estimula o vício e deve haver cuidado com o uso da plataforma.
Atenção ao vício
Um dos prejuízos para os usuários do jogo é financeiro: uma mulher relatou ter perdido todo o salário em 15 minutos na plataforma, segundo o programa Fantástico, da Rede Globo. A situação preocupa porque também afeta a saúde mental de quem joga, segundo Ariel Lipman, médico psiquiatra e diretor da SIG - Residência Terapêutica.
— A expectativa de ganho rápido mexe com neurotransmissores como dopamina, que está relacionada ao prazer e faz ser viciante. O jogo devolve um pouco de dinheiro para manter o jogador ativo, porque o interesse diminui rápido se ele apenas perder — pontua.
O especialista diz entender que jogos de azar “nunca são saudáveis”, porém compara a prática ao consumo de açúcar e álcool: o excesso é o problema.
— A pessoa precisará de ajuda profissional quando gastar mais do que pode e estiver sempre na expectativa de voltar a jogar — pondera.
Ariel afirma que o jogo do tigrinho é tão viciante quanto os tradicionais – como máquinas de caça-níqueis, roleta e carta; porém o fato de estar acessível pela internet pode ser um facilitador para desenvolver a dependência, segundo Andrea Jotta, pesquisadora de cyberpsicologia e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
— Ser online só piora a situação porque está sempre à mão: é como um viciado em jogo levar o cassino no bolso — compara.
A psicóloga critica o fato de não haver uma lei para esse tipo de jogo, o que estimula a manipulação de resultados e a propaganda excessiva nas redes sociais. Andrea compara o vício em jogos digitais à adição em álcool, drogas e pornografia. Por isso, ajuda profissional e apoio familiar são necessários para mudar a situação.
— O problema com jogos é um transtorno de impulso: conforme a perda, a pessoa vai jogar mais para recuperar (o dinheiro), e isso a leva para o fundo do poço.
Presença forte na internet
A divulgação do jogo do tigrinho nas redes sociais tem incomodado usuários. Perfis identificados com o Tiger Fortune seguem pessoas para oferecer cadastro em sites e bônus para quem fizer depósito em dinheiro. Leonardo Lauffer, 27 anos, foi um dos que viu sua conta no Instagram ser procurada por muitos perfis do gênero (veja na imagem abaixo).
— Havia sempre um ou outro (seguidor identificado com o jogo), mas nas últimas semanas começou a ser quase todos os dias, teve um dia que recebi 10 convites. É irritante, porque sabemos que não são pessoas de verdade, e sim bots (robôs) poluindo a rede social. Conheço o jogo, mas nunca joguei, não acredito que seja programado para dar dinheiro às pessoas, e sim tirar — disse o morador de Passo Fundo.
Por que o jogo é proibido
Segundo a delegada Vanessa Pitrez, diretora do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), jogos como o do tigrinho não são permitidos no país.
— Sem uma autorização federal para funcionamento, jogos que envolvem apostas em dinheiro são considerados uma contravenção penal, que prevê pena de três meses a um ano de prisão — diz.
Segundo a delegada, a pena pode ser maior se a polícia encontrar ligação do jogo com formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro, por exemplo.
Nesta semana, a Polícia Civil de São Paulo fez uma operação contra a divulgação do jogo nas redes sociais. A ofensiva teve como alvo uma influenciadora que teria obtido “ascensão patrimonial meteórica” com o game, segundo o G1.
— A pessoa que divulga pode ser responsabilizada ainda que não seja a proprietária do jogo, porque ela tem lucro. A divulgação nas redes sociais é uma apologia pública a um crime — acrescenta a delegada.