A plataforma bAIgrapher, desenvolvida por um médico gaúcho e acadêmicos da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), conquistou nesta segunda-feira (19) o Leão de Bronze na categoria Print&Publishing no Festival de Cannes, na França. O projeto do time gaúcho ainda é um dos 18 finalistas do Innovation Gran Prix, o principal prêmio do festival. O resultado sai nesta quinta-feira (22).
A bAIgrapher auxilia a preservar a memória de pacientes com Alzheimer e, junto com a expertise de médicos e alunos, atua na realização da terapia de reminiscência – psicoterapia que foca em relembrar eventos passados.
Segundo médico Marcelo Chapper, egresso do curso de Medicina UFCSPA, a plataforma simula um tipo de terapia efetiva e escalável, ou seja, o sistema armazena em texto, áudio e imagens depoimentos que compõem a biografia do paciente. Assim, o bAIgrapher através da IA interpreta, organiza e reescreve estes depoimentos.
Chapper explica que a plataforma consegue com estes elementos construir uma autobiografia com escrita literariamente uniforme e cronologicamente ordenada de todos os eventos da vida do paciente. Para isso, considera o que foi descrito nos depoimentos, preservando inclusive os detalhes, adjetivos e ênfases contidos nos depoimentos e insere as imagens nos momentos apropriados da timeline da vida do paciente.
Assim, o objetivo final do bAIgrapher é a construção de um livro autobiográfico, o qual possui a opção de gerar um audiobook com a voz (clonada) do próprio paciente.
Chapper ressalta que a ferramenta pode ser atualizada pelo paciente acompanhado de seu médico, conforme sentir necessidade.
— O sistema faz tudo isso automaticamente, este livro poderá ser constantemente atualizado, reescrito e editado pelo paciente que é o dono de sua própria história — argumenta.
Chapper desenvolveu a plataforma na empresa Wide Labs junto com os acadêmicos Luiza Pinheiro e Fabricio Vizzotto, do curso de Informática Biomédica.
Prêmio em Cannes
O Cannes Lions selecionou 18 trabalhos na categoria Innovation, onde quatro projetos brasileiros foram selecionados. O Innovation Lions busca celebrar inovação, tecnologia, soluções tecnológicas autônomas, incluindo ferramentas, produtos, modelos, plataformas e campanhas criativas utilizando novas tecnologias.
A reitora da UFCSPA, Lucia Campos Pellanda salienta a importância da indicação ao prêmio, que comprova a expertise inovadora dos alunos da universidade.
— Para a universidade é uma coisa única e mostra que nossos alunos são inovadores, possuem o conhecimento técnico, mas também o objetivo de impactar a sociedade — aponta.
Parceria com a universidade
Sobre a plataforma, a reitora Lucia menciona que as experiências iniciais têm ajudado bastante os pacientes a melhorarem a qualidade de vida. E que a universidade contribui com uma avaliação mais formal de desfecho clínico.
— A UFCSPA foi essencial. O sistema sempre possuiu potencial como terapia, porém, não é necessariamente visto dessa forma pelo público que não é da área médica. A disposição da UFCSPA em incentivar que esse tipo de uso da tecnologia seja seriamente investigado mudou a maneira como o projeto passou a ser visto. A universidade fez com que essa questão passasse a ser levada mais a sério por profissionais de diversas áreas, inclusive aqueles que não atuam na saúde — afirma Chapper.