Um novo capítulo da exploração espacial foi escrito na madrugada de quarta-feira (16), quando o foguete Space Launch System (SLS) foi lançado com a espaçonave Orion rumo à órbita da Lua. O momento histórico ocorreu no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, Estados Unidos, às 1h47min, no horário local, e às 3h47min, no horário de Brasília. Essa foi a primeira etapa da missão Artemis, que quer levar humanos ao satélite natural da Terra após 50 anos do feito realizado pelas missões Apollo.
O lançamento ocorreu após quatro datas marcadas serem adiadas pela National Aeronautics and Space Administration (Nasa), a agência espacial dos Estados Unidos, responsável pela missão. A viagem iniciada na quarta não tem tripulantes, e busca testar o foguete e a cápsula para as próximas etapas da missão, que serão conduzidas com pessoas. A espaçonave Orion orbitará o satélite natural e voltará à Terra em um deslocamento que deve durar 26 dias.
Bárbara Castanheira Endl, doutora em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora da Baylor University, nos Estados Unidos, trata o início da missão como "algo único". A pesquisadora diz entender que, além de inaugurar um novo momento na Ciência e na exploração espacial, a missão Artemis pode ajudar a mudar a forma como a humanidade trata a Terra:
— Não há fronteiras quando vemos nosso planeta do espaço. E isso é bastante importante, porque é a nossa casa. A exploração espacial também nos ensina a como preservar o nosso planeta.
O trabalho da Nasa não termina com a ida do homem à superfície lunar, prevista nas próximas fases da missão: é uma etapa que seguirá com o foco na exploração de Marte, nas décadas seguintes. Desse modo, somado ao avanço da Ciência esperado com a presença humana na Lua, a pesquisadora acrescenta que acontecimentos como o início da missão Artemis são capazes de criar um ambiente de estímulo para a formação de novos cientistas.
— Aqui, nos Estados Unidos, conversamos bastante sobre a "geração Marte", que seriam os futuros exploradores do planeta vermelho. Essa geração vê os lançamentos espaciais e se engaja com a Ciência. Não estamos longe (de pisar em Marte), tecnologicamente falando, é uma questão de custo, depende de quanto a humanidade vai decidir investir em exploração espacial. É possível que já tenha nascido a pessoa que pisará em Marte — comenta.
É possível que já tenha nascido a pessoa que pisará em Marte.
BÁRBARA CASTANHEIRA ENDL,
doutora em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora da Baylor University, nos Estados Unidos
Avanço científico e interesse econômico
Thiago Signorini Gonçalves, astrônomo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a missão Artemis faz parte de um contexto de exploração espacial que engloba dois fatores. O primeiro é o aparecimento de empresas privadas que querem desenvolver tecnologias para fins econômicos, a exemplo da SpaceX, em uma nova "corrida espacial". No outro lado está a parte científica, que também será beneficiada com a missão. Por isso, ele se diz cético ao observar a mescla dos dois objetivos notada atualmente.
— Tem um fator de marketing por trás do investimento (na missão), de chamar atenção, a visão tecnológica e econômica das vantagens da exploração tripulada da Lua e de Marte que não são científicas. Se o investimento fosse voltado para telescópios e para missões não tripuladas, poderia ter um retorno científico muito maior do ponto de vista de descobertas — comenta.
Segundo o astrônomo, a descoberta da presença de água na Lua mudou como a humanidade trata as expedições. Isso porque há a perspectiva da criação de uma base duradoura no satélite natural, para estudos, e como um "degrau" para um objetivo mais distante, nos anos seguintes, que é enviar humanos a Marte, com a tecnologia desenvolvida em solo lunar.
Além disso, no contexto científico, a presença constante de cientistas na Lua nos próximos anos pode ajudar a responder perguntas ainda em aberto entre os estudiosos: como foi a origem do Sistema Solar, dos outros planetas e da Terra? Como foi formada a água identificada no satélite natural? A criação da Lua ocorreu devido a um impacto com a Terra?
— A Lua não tem atmosfera e também não tem todos processos químicos acontecendo na superfície, como é na Terra, onde muitos dos sinais de formação foram apagados. Na Lua podemos estudar bastante essas origens, porque as formações geológicas estão preservadas. É importante estudarmos os corpos para entender a origem do Sistema Solar, porque, quanto mais estudarmos, mais aprenderemos sobre o nosso lugar na galáxia — acrescenta.
É importante estudarmos os corpos para entender a origem do Sistema Solar, porque, quanto mais estudarmos, mais aprenderemos sobre o nosso lugar na galáxia.
THIAGO SIGNORINI GONÇALVES
astrônomo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
A missão
A primeira viagem da missão Artemis deve durar 26 dias, com previsão de amerissagem (como é chamado o pouso, que nesse caso deve ser uma queda no oceano) em 11 de dezembro. A ideia é viajar na órbita da Lua para coletar dados e para que as equipes possam avaliar o desempenho da nave para depois voltar ao planeta Terra. A distância de 64 mil quilômetros além da Lua e a velocidade alcançada serão testadas.
Após cerca de três semanas e uma distância total percorrida superior a 2 milhões de quilômetros, a missão terminará com um teste da capacidade da Orion de retornar com segurança. A espaçonave fará o pouso no oceano na Califórnia, nos Estados Unidos.
A segunda parte, a Artemis 2, deverá contar com humanos a bordo da nave, mas eles não vão pisar na Lua. O plano seguinte prevê que eles apenas viagem na nave, sem descer dela. Essas duas etapas são preparatórias para a terceira, quando a primeira mulher e a primeira pessoa negra devem pisar na Lua.
Os planos da Nasa, depois de o homem voltar à Lua, é chegar a Marte. Por isso, a Lua servirá como uma espécie de atalho, além de ser um ponto de abastecimento dos astronautas da missão que irá para o planeta vermelho.