Um foguete Soyuz decolou nesta quarta-feira (21) rumo à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), partindo do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, com dois cosmonautas russos e um astronauta americano a bordo, em meio a tensões ligadas à ofensiva na Ucrânia.
"A estabilidade é boa (...), a tripulação se sente bem", disse um comentarista da Agência Espacial Americana (Nasa) após a decolagem, transmitida ao vivo pelos sites das agências espaciais dos Estados Unidos e da Rússia.
O foguete russo decolou no horário programado, 10h54min (horário de Brasília), das estepes do Cazaquistão, deixando para trás um rastro de fumaça em um céu acinzentado, segundo as imagens.
Essa missão do americano Frank Rubio, da Nasa, e dos russos Sergei Prokopiev e Dmitri Petelin, da agência espacial russa Roscosmos, representa um raro sinal de cooperação entre Moscou e Washington, cujas relações se encontram em seu nível mais baixo.
Rubio é o primeiro astronauta americano a viajar para a ISS em uma espaçonave russa desde o início da intervenção militar de Moscou na Ucrânia em 24 de fevereiro deste ano.
A tripulação passará seis meses na ISS, onde se juntarão aos cosmonautas russos Oleg Artemiev, Denis Matveiev e Sergei Korsakov, aos astronautas americanos Bob Hines, Kjell Lindgren e Jessica Watkins e à astronauta italiana Samantha Cristoforetti. A chegada à ISS está prevista após uma viagem de três horas.
Sanções afetam indústria espacial
Os ocidentais adotaram uma série de sanções sem precedentes contra Moscou e suas relações, já tensas desde 2014, despencaram. A indústria espacial também foi afetada, mas o espaço ainda era, de certa forma, um âmbito de cooperação entre Moscou e Washington.
Após o voo desta quarta-feira, Anna Kikina, a única mulher cosmonauta da Rússia em serviço ativo, deve ir ao laboratório orbital no início de outubro a bordo de uma nave Crew Dragon da empresa americana SpaceX. Ela será a quinta cosmonauta profissional russa a ir ao espaço e a primeira mulher a voar em um foguete da empresa do bilionário Elon Musk.
Com esses dois voos, astronautas e cosmonautas conseguiram se manter alheios às tensões causadas pelo conflito. Resultado de uma colaboração entre Estados Unidos, Rússia, Canadá, Japão e a Agência Espacial Europeia, a ISS é dividida em dois segmentos: um americano e um russo.
Moscou deixará a ISS
A ISS atualmente conta com um sistema de propulsão russo para permanecer em sua órbita de 400 km, enquanto o segmento americano lida com eletricidade e sistemas de suporte à vida. As tensões neste campo aumentaram após o anúncio das sanções de Washington contra a indústria aeroespacial russa, que provocou advertências do ex-chefe da Roscosmos e defensor incondicional da intervenção na Ucrânia, Dmitri Rogozin.
O recém-nomeado sucessor de Rogozin, Yuri Borisov, confirmou a decisão russa de deixar a ISS após 2024 para criar sua própria estação orbital, para a qual não definiu uma data. A Nasa disse que a decisão era um "evento infeliz" que prejudicará o trabalho científico na ISS.
Segundo especialistas na área, a construção de uma nova estação pode levar dez anos para Moscou, já que a indústria aeroespacial russa, orgulho do país desde os tempos soviéticos, não pode prosperar sob sanções.
A ISS foi lançada em 1998 em um momento de esperança de cooperação entre as duas potências mundiais. Nos tempos soviéticos, o programa espacial russo foi próspero, alcançando grandes sucessos como o envio do primeiro homem ao espaço em 1961 (Yuri Gagarin) ou o lançamento do primeiro satélite Sputnik quatro anos depois.
Mas nos últimos anos a Roscosmos sofreu uma série de contratempos embaraçosos, com escândalos de corrupção e a perda de vários satélites e dispositivos espaciais. A Rússia também perdeu seu monopólio no envio de voos tripulados para a ISS devido ao surgimento da SpaceX.
* AFP