Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão liderando o projeto do radiotelescópio BINGO. A tecnologia, que está em processo de construção no sertão da Paraíba, será utilizada para o estudo do lado escuro do Universo. As informações são da CNN Brasil.
O trabalho de preparação do radiotelescópio já completou 12 anos. A iniciativa conta com colaboração internacional. Entre os principais parceiros estão o Institute for Basic Science (Coreia do Sul), o Institut d'Astrophysique Spatiale (França), o Instituto de Astrofísica das Canárias (Espanha), o Instituto Max Planck (Alemanha) e Shanghai Jiao Tong (China).
Em entrevista à CNN Rádio, Elcio Abdalla, professor de Física da USP e um dos líderes do projeto, revelou que entre os principais objetivos da tecnologia está o mapeamento da matéria escura que representa 96% de todo Universo. Os pesquisadores também pretendem utilizar o radiotelescópio para fins de sensoriamento remoto, com inserções de novas ferramentas e funcionalidades que incentivarão a educação e a divulgação da ciência.
Para encontrar as propriedades da matéria escura dispersa no sistema solar, a tecnologia se baseará em medidas de ondas gigantescas. A atual fase do projeto, que conta com experimentos e testes, ainda durará de três a quatro meses.
Segundo Elcio, o sucesso do recurso desenvolvido pelos pesquisadores poderá promover o desenvolvimento regional do sertão paraibano, além de incentivar investimentos na educação e na área. A previsão é de que até o próximo ano o radiotelescópio consiga iniciar o processo de observações científicas do universo.
Até o momento, sete artigos que descrevem o desenvolvimento do projeto foram publicados, da metade do ano passado até o início desse mês, no periódico científico Astronomy & Astrophysics Journal.
Foi divulgado em 15 de julho do ano passado no canal do YouTube do projeto um vídeo que apresenta o radiotelescópio e traz algumas informações sobre a iniciativa. Confira!
O que é, afinal, a matéria escura?
Em entrevista concedida em 2018 para a revista Superinteressante, o astrônomo Enos Picazzio afirmou que a matéria escura é um componente do Universo que os cientistas sabem que existe, mas ainda não conseguem definir o que realmente é.
Picazzio ainda esclareceu que o componente cósmico é considerado como matéria porque é possível medir sua existência por meio da força gravitacional que ele exerce sobre corpos celestes. Já a denominação "escura" é decorrente da não emissão de luz, o que dificulta ainda mais as pesquisas sobre o objeto de estudo.
Vale lembrar que todas as observações de corpos celestes no espaço são realizadas graças a luz ou outro tipo de radiação eletromagnética emitidas ou refletidas pelos astros. No caso da matéria escura, essa estratégia não consegue ser aplicada.
Fritz Zwicky, astrônomo húngaro radicado nos Estados Unidos, foi um dos primeiros a falar sobre a matéria escura. Na década de 1930, o pesquisador realizou o cálculo da massa de algumas galáxias. Com isso, percebeu que ela era 400 vezes maior do que sugeriram a medida da massa das estrelas observadas.
Para Fritz, a diferença na medida da massa se devia à matéria escura. O astrônomo também deduziu que ela não era apenas um componente do sistema solar, mas sim grande parte do que o constitui.
Apesar de não haver estudos comprovatórios sobre a natureza da matéria escura, algumas pesquisas recentes apontam para a possibilidade do componente ser feito de partículas subatômicas que são menores que elétrons, nêutrons e prótons e que ainda são indetectáveis pelos atuais instrumentos de medição.