O que acontecerá se (ou quando) a humanidade encontrar vida fora da Terra? Como a exploração espacial deve ser feita sem colocar a comunidade internacional em risco? A busca por respostas fora do planeta é capaz de unir ou distanciar as pessoas? Esses são alguns dos questionamentos de Flora Dutra, 39 anos, aluna do doutorado em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que entende que o momento de encontramos formas de vida fora do planeta está próximo e, por isso, é preciso se preparar.
Na busca por respostas, a gaúcha foi premiada em um congresso da National Aeronautics and Space Administration (Nasa) Astrobiology, um braço da agência espacial americana que trata da busca por vida extraterrestre. A premiação ocorreu em maio deste ano por meio de um artigo chamado Astrobiological Humanities Group for Interplanetary Protection and Defense Policies (Grupo de Humanidades Astrobiológicas para Políticas de Proteção e Defesa Interplanetária, em português).
A doutoranda é formada em Jornalismo pela Universidade de Cruz Alta (Unicruz) e tem dois mestrados: um em Comunicação e outro em Ciências Sociais, ambos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ela se diz apaixonada por áreas que tratam dos assuntos do Universo, como a Astrobiologia e Astrofísica. No doutorado, decidiu unir a vida acadêmica construída até então nas Ciências Humanas com discussões que, em princípio, estão ligadas apenas a áreas das Ciências Exatas.
Por isso, ela optou por estudar a exploração espacial a partir de uma discussão baseada em abordagens da Antropologia, a Filosofia e a Política. Nesse tema, ela fez um recorte: as políticas de proteção e defesa da Terra que devem ser seguidas pelos países, empresas e agências espaciais.
A Nasa, um dos principais atores da exploração espacial, tem um comitê focado na proteção planetária, um conjunto de ações que visa defender os corpos do Sistema Solar da contaminação pela vida na Terra e, por outro lado, proteger a Terra de possíveis contaminações por vida extraterrestre durante as missões. Em resumo, esses procedimentos querem evitar que a exploração do Universo, agora e no futuro, coloque a vida humana em perigo.
— Essas políticas protegem a humanidade de uma contaminação biológica. Hoje, com o avanço do setor privado espacial (ela cita a SpaceX, de Elon Musk), os protocolos que regiam os procedimentos foram flexibilizados, principalmente nos Estados Unidos. Isso acarreta uma maior possibilidade de incidência de contaminações em missões e coloca em risco a vida na Terra — resume.
É, portanto, segundo a doutoranda, um assunto que envolve todas as pessoas vivas hoje e as próximas gerações. No entanto, durante a análise desses procedimentos da Nasa e como eles são comunicados, Flora diz ter notado uma "falta de diálogo" com a comunidade internacional. A pesquisadora também argumenta que, com o aumento das missões, cresce também a quantidade de "lixo" deixado pelos foguetes, outro problema que não é discutido no assunto.
Por isso, pela importância, as decisões e informações dos protocolos de segurança da exploração espacial não devem ficar restritos a um grupo pequeno de pessoas e a apenas áreas do conhecimento que se ocupam do tema, mas sim de ser debatido com toda a comunidade internacional. Isso porque, segundo a pesquisadora, o progresso das descobertas científicas deve ser feito com responsabilidade e transparência, para que os avanços não signifiquem um prejuízo ao planeta ou à humanidade.
Além disso, para ela, a atenção aos protocolos já mostra um caminho que é percorrido pelo ser humano há anos: chegar ao momento em que anunciaremos que não somos os únicos seres vivos do Universo, um dia que deve chegar logo, em especial com ajuda do telescópio espacial James Webb:
— Encontrar vida fora da Terra é uma questão de tempo, mas elas serão simples, de microrganismos, e não complexas (como os seres humanos). Quando encontrarmos, teremos outra possibilidade de interpretação do que é a vida, de como ela é fora da Terra e como a espécie humana pode se tornar multiplanetária a partir dessas descobertas e do avanço tecnológico espacial — finaliza.