Pesquisadores da Austrália, China e Dinamarca encontraram recentemente 968 espécies de micróbios dentro de geleiras do Planalto Tibetano, na Ásia Central. Após análise dos genomas dos microrganismos, constatou-se que a maioria nunca foi descoberta pela ciência. Além disso, descobriram que eles têm potencial de ocasionar novas pandemias, caso as mudanças climáticas provoquem o derretimento do gelo e libertem esses patógenos na natureza. O estudo foi publicado na revista científica Nature.
Para a realização da pesquisa, foram coletadas amostras de microrganismos de 21 geleiras do Planalto do Tibete, que foram analisadas pela Academia Chinesa de Ciência. A partir disso, o DNA dos micróbios foi sequenciado dentro do gelo, criando uma base de dados genômica chamada de Catálogo Tibetano de Genes e Genomas (TG2G). De acordo com os cientistas responsáveis pelo estudo, essa é a primeira vez que uma cultura microbiana é sequenciada geneticamente dentro de uma geleira.
Com os resultados da análise, constatou-se a presença de 968 espécies de micróbios, sendo a maior parte formada por bactérias. Além delas, havia a presença de algas, arqueias e fungos. Desse total descoberto, 98% dos microrganismos não faziam parte de nenhum banco de dados científicos, o que significa que até então não se sabia sobre a existência deles.
Para os autores da pesquisa, dois fatores que mais chamaram a atenção foi a diversidade microbiana encontrada e a capacidade dos micróbios resistirem em condições tão extremas, como altos níveis de radiação solar, baixas temperaturas, ciclos periódicos de gelo e degelo e limitação de nutrientes.
Até o momento, os pesquisadores não conseguiram determinar a idade dos microrganismos. Apesar disso, é de conhecimento científico que as técnicas atuais permitem "reviver" micróbios congelados de até 10 mil anos.
O Planalto Tibetano
O Planalto do Tibete é uma região de grande altitude que fica localizado na Ásia Central, entre as montanhas do Himalaia, ao sul, e o deserto Taklamakan, ao norte. Em 2020, cientistas encontraram no local 33 grupos diferentes de vírus dentro de geleiras. Desse total, 28 espécies eram desconhecidas.
De acordo com a equipe de pesquisadores envolvida no estudo, em caso de descongelamento das geleiras, a região tem enorme potencial de dar origem a novas pandemias, uma vez que o Planalto alimenta os rios Amarelo, o Yangtze e o Ganges, que banham China e Índia, e vias fluviais que percorrem dois dos países mais populosos do mundo.
Mudanças climáticas
Na pesquisa, os cientistas já previram o que aconteceria caso as mudanças climáticas provocassem o descongelamento das geleiras do Planalto Tibetano. Segundo a equipe, isso liberaria para a natureza micróbios potencialmente perigosos, principalmente bactérias que poderiam originar novas endemias e até pandemias.
Os pesquisadores identificaram aproximadamente 27 mil fatores de virulência no catálogo TG2G, ou seja, moléculas capazes de ajudar as bactérias a invadirem e colonizarem potenciais hospedeiros.
Um fato que surpreendeu a equipe é que 47% dos fatores de virulência nunca foi visto anteriormente. Com isso, é impossível saber o quanto essas bactérias podem ser prejudiciais caso sobrevivam ao descongelamento.
Em caso de sobrevivência das bactérias, os cientistas apontam para os riscos dos patógenos passarem seus elementos genéticos móveis (MGEs) à frente para microrganismos modernos, o que poderia gerar a transmissão em massa de doenças.
O genoma coletado e reunido no TG2G poderá ser utilizado para o aproveitamento de compostos novos que poderão ter usos medicinais, cosméticos e tecnológicos. Além disso, no caso de os microrganismos que estão nas geleiras se extinguirem futuramente, haverá o registro de seus DNAs, que poderão ser analisados e estudados.