Cientistas da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, descobriram novos vírus que infectam um grupo de micróbios. De acordo com os pesquisadores, o estudo poderá ajudar na compreensão da origem da vida complexa. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Microbiology.
A descoberta reforça a hipótese de que os vírus foram primordiais para a evolução dos seres vivos e demais formas de vida complexas. Esse pensamento faz parte de uma teoria que tem sido muito debatida, chamada de eucariogênese viral. De acordo com ela, esses seres acelulares podem ter contribuído com algum componente genético para o desenvolvimento dos eucariontes (organismos que têm um núcleo celular cercado por uma membrana e com várias organelas).
Outra teoria predominante é de que todas as formas de vida complexas, como os seres humanos e os eucariontes, se originaram quando arqueias e bactérias se fundiram e formaram um organismo híbrido. Há alguns pesquisadores que não descartaram a hipótese de os vírus também terem contribuído nesse processo.
O recente estudo, liderado por Ian Rumbo, fez parte dos desdobramentos da tese de doutorado do pesquisador e poderá conectar o papel dos vírus na formação de vida complexa. Além disso, poderá encontrar pistas sobre o papel desses seres acelulares no surgimento dos eucariontes.
Para os estudiosos da Universidade do Texas, os vírus, além de terem contribuído com as bactérias e arqueias, podem ter auxiliado com algum componente genético para o desenvolvimento dos seres eucariontes.
As arqueias, também conhecidas como arqueobactérias, são seres vivos unicelulares que possuem uma morfologia semelhante às bactérias, mas diferem delas quanto à organização genética e bioquímica. Segundo estudos recentes na área, os primeiros seres eucariontes são descendentes diretos dos Asgard archaea, um subgrupo de arqueias.
Vírus recém-descoberto
Os novos vírus descobertos pelos pesquisadores norte-americanos infectam as arqueias asgard e têm algumas características semelhantes a outros seres acelulares. Eles afetam os eucariontes e procariontes (organismos com células, mas sem núcleo) e possuem capacidade de copiar o DNA e sequestrar sistemas de modificação de proteínas de seus hospedeiros.
Segundo os cientistas, os agentes infecciosos recém-descobertos são únicos e diferentes daqueles que infectam outras formas de vida complexas porque possuem características tanto de vírus que atacam eucariontes quanto dos que atacam os procariontes.
Funcionamento da pesquisa
Para a realização da pesquisa liderada por Ian Rumbo, os pesquisadores tiveram que escanear os genomas de arqueias asgard com intuito de repetir regiões de DNA, conhecidas como matriz CRISPR, que contêm pequenos pedaços de material genético viral que podem ser combinados de forma precisa com os vírus que infectaram anteriormente os micróbios.
Essas pequenas partes de DNA viral funcionam como uma espécie de impressão digital genética e permitem a identificação dos invasores virais que infectam os eucariontes.
As arqueias
De acordo com os cientistas, as arqueias asgard evoluíram há mais de 2 bilhões de anos. Elas foram descobertas em sedimentos marinhos profundos e fontes termais ao redor do mundo. Apesar disso, até hoje, somente uma cepa foi cultivada em laboratório.
Para identificar as arqueias asgard, os pesquisadores precisam coletar seu material genético e, em seguida, juntar seus genomas.