Um marco para a ampliação do conhecimento do Universo. Assim resumem especialistas ouvidos por GZH sobre a divulgação dos primeiros dados científicos do Telescópio Espacial James Webb (JWST).
Os materiais foram anunciados em dois momentos: na segunda-feira (11), a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) revelou uma imagem do SMACS 0723, um agrupamento de galáxias localizado a cerca de 4,6 bilhões de anos-luz de distância da Terra.
Na terça-feira (12), mais quatro materiais foram divulgados: a captura de imagens das nebulosas planetárias Carina e Anel do Sul, do grupo de cinco galáxias chamado do Quinto de Stephan, e um espectro da atmosfera do exoplaneta WASP-96B.
Com investimento de 10 bilhões de dólares (R$ 50 bilhões), o equipamento começou a ser construído em 2004 e foi lançado no fim de 2021. Localizado a 1,5 milhão de quilômetros da Terra, o JWST é fruto de uma parceria entre a Nasa e Agência Espacial Europeia (ESA).
Para o professor Rogemar André Riffel, astrônomo e professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), uso do telescópio inicia um período de descoberta para pesquisadores do mundo todo.
— Os primeiros dados científicos do James Webb são impressionantes. Ficamos muito entusiasmados com a qualidade dos dados e confiantes de que o James Webb revolucionará nosso conhecimento do Universo — diz.
Ele explica que os dados divulgados incluem imagens e espectros. As imagens permitem estudar como que as estrelas, o gás e a poeira estão distribuídos no espaço. Os espectros ajudam a identificar como esses componentes se movem.
Como exemplo, ele cita um dos espectros apresentados pela Nasa, do agrupamento de galáxias SMACS 0723, no qual há uma galáxia a 13,1 bilhões de anos-luz de distância da Terra. Segundo ele, as imagens mostram algumas estruturas de emissão de gás e poeira que nunca foram vistas, "com uma riqueza de detalhes sem precedentes".
No entanto, para Riffel, as primeiras imagens e espectros em si não trazem impactos imediatos para o entendimento do Universo. Isso porque esses dados ainda deverão ser analisados para que se possa compreender os processos físicos envolvidos nos objetos observados. Assim, o material divulgado na terça-feira deve ser visto como uma prévia do que esperar do James Webb nos próximos 10 anos, tempo estimado da missão.
— A qualidade das imagens e espectros, aliado ao fato de operar no infravermelho, possibilitará estudar em detalhes objetos que não podiam ser estudados com seus antecessores. Mais do que respostas, o James Webb trará novas perguntas, que é o que move a ciência. Definitivamente, entramos em uma nova era para a astronomia e ciência em geral.
Vida em outros planetas
O telescópio capta fontes de luz infravermelha, algo invisível para o olho humano. Essa tecnologia permite enxergar objetos distantes, que estão "atrás" de camadas de poeira espalhadas pelo espaço.
— Conseguimos observar regiões de formações de estrelas e estrelas escondidas na poeira, chegar bem perto de um buraco negro, conseguimos enxergar as galáxias no início do Universo. (Com o telescópio) estamos vendo o que aconteceu 13 bilhões de anos atrás. Ele é um novo passo para conhecermos o Universo — diz Thaisa Storchi Bergmann, astrônoma e professora do instituto de física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Mais do que respostas, o James Webb trará novas perguntas, que é o que move a ciência. Definitivamente, entramos em uma nova era para a astronomia e ciência em geral
ROGEMAR ANDRÉ RIFFEL
Astrônomo e professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Maria
O entendimento de como o Universo evoluiu não é o único objetivo da missão do telescópio. Descobrir locais com condições favoráveis à vida será um dos focos dos próximos trabalhos. Por isso, os pesquisadores apontarão o equipamento para estudar os exoplanetas, como são chamados os planetas fora do Sistema Solar.
Um deles, o WASP-96B, já teve a atmosfera investigada pelo James Webb, com o resultado apresentado na terça-feira. Nela, os pesquisadores encontraram indícios da presença de vapor de água. A água é um dos elementos necessários à vida como conhecemos hoje.
— Vamos obter dados da abundância química desses 5 mil exoplanetas que já descobrimos, mas que não sabemos se são habitáveis. O James Webb vai permitir que se estude as atmosferas deles para aferir isso. É uma busca de vida fora da Terra — explica a cientista.
Estamos vendo o que aconteceu 13 bilhões de anos atrás. Ele é um novo passo para conhecermos o Universo
THAISA STORCHI BERGMANN
Astrônoma e professora do instituto de física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Pesquisadores gaúchos e o James Webb
A partir de agora, cientistas de diversos países poderão usar o James Webb em pesquisas. Isso porque 250 propostas foram autorizadas a utilizar o instrumento nos próximos anos. Um dos trabalhos será desenvolvido pelos dois pesquisadores gaúchos ouvidos nesta reportagem. Eles terão cerca de 16 horas para estudar três galáxias entre abril e julho de 2023.
— Vamos observar galáxias ativas, que são aquelas que têm um buraco negro com massa de milhões a bilhões de sóis, e que está capturando matéria ativamente. Queremos responder qual o efeito desse buraco negro supermassivo na evolução das galáxias, na formação de novas estrelas — explica Riffel.