Astrônomos da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos e de Taiwan, publicaram na segunda-feira (23) na revista científica Nature um estudo que considera que planetas que estão em um sistema constituído por estrelas binárias possibilitam a existência de vida fora da Terra.
O estudo foi realizado com base em observações do sistema estelar binário NGC 1333-IRAS2A, constituído por um disco de gás e poeira e duas estrelas jovens, que ficam a cerca de mil anos-luz de distância da Terra . Para isso, foi utilizado o telescópio Atacama Large Millimeter Array (Alma), no Chile. Como o sistema cósmico é ainda muito jovem, não houve ainda a formação de planetas, mas os pesquisadores acreditam que quando ocorrer a constituição deles, poderá haver condições de existência de vida.
As estrelas do sistema têm entre si uma distância de 200 unidades astronômicas (UAs). Para efeitos de comparação, a distância entre a Terra e o Sol é equivalente a uma UA, já Netuno está a 30 UAs do Sol.
Com a pesquisa, os astrônomos avaliaram que existem características e eventos que auxiliam na formação e evolução da vida e no próprio surgimento de planetas nesse tipo de sistema. Um dos elementos que contribuem com esse processo é o cometa. Para Jes Jorgensen, um dos autores do estudo, esses corpos celestes têm um alto teor de gelo com presença de moléculas orgânicas que são preservadas e que podem contribuir principalmente na época em que o planeta está "estéril", no caso de já ter sido formado. Além disso, com os impactos que os cometas podem sofrer posteriormente, ocorre a liberação dessas moléculas para a superfície do planeta, o que possibilita a formação e manutenção da vida.
Outros fatores que contribuem com a existência da vida em sistemas de estrelas binárias são as rajadas e os elementos químicos. Segundo os astrônomos, o aquecimento causado pelas rajadas provoca a evaporação dos grãos de poeira e do gelo. Isso pode alterar a composição química do material a partir do qual os planetas são formados. Com o telescópio Alma, os pesquisadores conseguiram observar no sistema estudado moléculas bastante complexas, que continham inclusive carbono. De acordo com os estudiosos, elas podem ser "blocos de construção" para a constituição de moléculas ainda mais complexas que são fundamentais para a existência da vida.
As observações levaram os pesquisadores a concluir que os sistemas binários em torno de estrelas de tamanho e tipo semelhantes ao Sol são os alvos prioritários para a busca por vida. Essas estrelas aquecem os planetas, o que aumenta a chance de serem orbitadas por corpos planetários com água líquida. Como mais da metade delas que têm o tamanho do Sol estão localizadas em sistemas binários, as chances ainda aumentam.
Os autores da pesquisa consideram que o estudo esteja ainda no marco inicial e que novas investigações precisam ser realizadas. As observações que foram feitas não levaram em consideração, por exemplo, a evolução do sistema estelar. Por conta disso, os estudiosos pretendem complementar as observações com novas simulações de computador. Os astrônomos também pretendem em breve utilizar os registros do telescópio espacial James Webb.
Sistema de estrelas binárias
Uma das diferenças entre o sistema solar e o sistema de estrelas binárias, é que os planetas do primeiro giram em torno de uma única estrela, enquanto o segundo é composto por duas estrelas que orbitam um baricentro comum (centro de massas).
No sistema de estrelas binárias, a mais brilhante é chamada de primária, enquanto a outra é conhecida como estrela companheira ou secundária. Os astrônomos costumam ter muita atenção ao classificar um sistema nessa categoria, pois existem as estrelas binárias reais e as aparentes. No último caso, elas estão a diferentes distâncias da Terra e só parecem ser duplas por um efeito de projeção.