Ela só tinha dois anos quando se deitava no chão da área de serviço da casa em Maceió (AL), onde morava, para olhar as estrelas. Aos quatro, pediu que os pais lhe dessem um telescópio, e, ao ouvir que o instrumento era muito caro para o bolso da família, passou a recusar as festinhas de aniversário como forma de economizar para o que queria. Todos os brinquedos tinham que ter a temática do espaço.
Aos oito, Nicole Oliveira se apresenta como uma astrônoma amadora e vem ganhando destaque na área tanto pela pouca idade quanto pela dedicação. Participante do projeto Caça Asteroides, programa em parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e o International Astronomical Search Collaboration (IASC/NASA), a menina já detectou pelo menos 12 desses corpos celestes. Se confirmado, pode ser uma das pessoas mais jovens na missão.
Mãe de Nicole, Zilma Janacá, 43 anos, garante que a filha não é superdotada, apenas muito dedicada. Resoluta de que queria estudar astronomia, a menina matriculou-se em um curso introdutório aos seis anos e encarou uma turma repleta de adultos.
Os colegas, inclusive, achavam que quem estava lá para aprender sobre os astros era Zilma, que fazia companhia à filha nas aulas semanais. Tudo ficou esclarecido quando viram Nicole concentrada nas lições enquanto a mãe tirava uns cochilos.
— Pensavam que era eu que estava fazendo o curso e, como não tinha com quem deixar, levava ela. Quando me viam ou dormindo ou fazendo outra coisa, enquanto a Nicole ficava atenta, fazendo as anotações, se deram conta que era ela a aluna — contou Zilma a GZH, por telefone.
Aprovada e com certificado, Nicole se sentiu preparada para ensinar outras crianças sobre astronomia. Fundou um canal no YouTube onde explica se é ou não possível emitir sons no espaço e entrevista grandes nomes da área, como a astrônoma Duília de Mello.
Coordenadora-geral de Popularização da Ciência, Tecnologia e Inovações, braço do MCTI que organiza o projeto Caça Asteroides, Silvana Copceski diz que Nicolinha, como é conhecida, tem o grande diferencial de popularizar a astronomia entre o público infantil. Para confirmar se ela é ou não a mais jovem na missão de detectar asteroides, seria necessário fazer uma extensa pesquisa nos arquivos do MCTI e do instituto americano.
Mas, segundo uma fala do astrônomo Patrick Miller, diretor do IASC e responsável pelo Caça Asteroides nos Estados Unidos, ele não lembra de ter visto alguém tão novo na tarefa de encontrar novos corpos celestes.
— O Doutor Patrick Miller, que é o diretor do projeto, disse que não se recorda de alguém tão jovem caçando asteroides. Depois que a Nicolinha começou a divulgar o programa, conseguimos atrair mais crianças — confirma Silvana.
Com uma bolsa para estudar em uma escola particular em Fortaleza, no Ceará, onde mora atualmente com os pais, Nicole passa a pandemia inteiramente focada. Foi campeã duas vezes da Olimpíada Brasileira de Astronomia (Oba), em 2020 e 2021, e já tem duas medalhas de ouro. Enquanto aguarda o resultado para saber se teve sucesso na descoberta dos asteroides, processo que depende da confirmação de entidades internacionais e que pode levar entre seis e oito anos, ela sonha com o futuro: quer cursar engenharia aeroespacial no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, interior de São Paulo.
Perguntada se a filha gosta de brincar com bonecas, Zilma diz que não, que ela prefere foguetes, e que finalmente conseguiu o telescópio que tanto queria. Mas volta atrás e lembra que Nicole tem duas Barbies, uma astrônoma e outra astronauta.
— Dessas Barbies, eu gosto — responde Nicole ao telefone.
Tanta paixão a um assunto tão pouco desbravado deixa Zilma, que confecciona bonecas de feltro, um tanto perdida nas conversas da menina. Nicole escolheu uma gíria mais adequada para definir a perplexidade da mãe:
— Eu, até agora, ainda estou "fora de órbita", como ela mesma diz. Ela me fala: "mamãe, você está fora de órbita".