Inflamado por conta de uma função de privacidade no iOS, sistema operacional que roda em aparelhos como os iPhones, o embate entre Facebook e Apple ganhou novo capítulo com um discurso de Tim Cook, CEO da Apple, na conferência Computers, Privacy and Data Protection (em português, Computadores, Privacidade e Proteção de Dados) em Bruxelas, na Bélgica, na quinta-feira passada (28). A alteração está prevista para o iOS 14, versão que será lançada em 2022.
O empresário se mostrou preocupado com a polarização e a desinformação nas mídias sociais e apontou parcela de responsabilidade de aplicativos que coletam muitas informações pessoais dos usuários e priorizam as chamadas teorias da conspiração. Nas suas palavras, incitam a violência simplesmente por causa de suas altas taxas de engajamento — uma menção indireta a redes sociais como o Facebook.
Apple e o Facebook têm travado uma batalha no campo da privacidade: a empresa de Cook está se preparando para implementar notificações de privacidade que muitos na indústria de publicidade digital acreditam que farão com que algumas pessoas se recusem a permitir o uso de ferramentas de segmentação de anúncios. Já a gigante de Mark Zuckerberg acusa a Apple de práticas anticompetitivas por ter um catálogo crescente de aplicativos pagos e seu próprio negócio de publicidade digital.
O problema, para o Facebook, está na maior capacidade de controle que a Apple vai permitir a seus usuários em relação a como os aplicativos podem rastrear quem usa o aparelho. Isso significa que os apps saberão menos do cotidiano da pessoa fora do aplicativo da rede social, o que prejudicaria a venda de anúncios — aqueles produtos que aparecem como propaganda dentro do Facebook e do Instagram, por exemplo.
— Ainda estamos tentando entender como essas mudanças serão, como elas nos impactarão e a todos da indústria, que no mínimo irá dificultar o crescimento do uso de publicidade dentro do Facebook e em outros apps — afirmou David Wehner, diretor financeiro do Facebook, em entrevista ao canal americano CNBC.
Em seu discurso na semana passada, Cook se posicionou contra o uso comercial de informações pessoais.
— A tecnologia não precisa de uma vasta coleção de dados pessoais costurada de dezenas de sites e aplicativos para ter sucesso. A publicidade existiu e prosperou durante décadas sem isso, e estamos aqui hoje porque o caminho mais fácil é raramente o caminho da sabedoria.
A disputa entre as gigantes da tecnologia não é de hoje. Em dezembro, a empresa de Mark Zuckerberg veiculou anúncios em alguns dos principais jornais dos Estados Unidos para sustentar que a alteração no sistema operacional prejudicará principalmente os pequenos negócios.
Para se posicionar contra a nova regra, o Facebook exibiu anúncios no New York Times, Wall Street Journal e Washington Post com a seguinte chamada: "Estamos enfrentando a Apple pelas pequenas empresas em todos os lugares". A campanha ainda inclui um texto com críticas à mudança no iOS 14.
O Facebook afirma que a restrição da Apple à coleta de dados fará as pequenas empresas registrarem, em média, uma queda de mais de 60% em vendas feitas a partir de anúncios: "Essas mudanças serão devastadoras para as pequenas empresas", afirmou o Facebook. "As pequenas empresas merecem ser ouvidas. Ouvimos suas preocupações e estamos com vocês", destacou ainda a rede social.
Com o bloqueio ativado, os aplicativos ainda precisarão perguntar para o usuário se ele quer que alguns dados sejam rastreados. Com este maior controle sobre a privacidade, uma parte considerável da receita do Facebook pode ficar menor, já que a publicidade será menos focada e mais genérica — e propaganda genérica tem menor chance de virar uma compra.