Um pequeno animal que viveu há 225 milhões de anos no Rio Grande do Sul pode ser o ancestral mais antigo dos dinossauros ornitísquios, que tinham chifres e armaduras, e o primeiro desta linhagem no Brasil. É o que constataram pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que publicaram, nesta terça-feira (25), o estudo no periódico britânico Biology Letters.
A pesquisa propõe uma alteração na base da árvore evolutiva dos ornitísquios, mostra que este grupo não era apenas herbívoro _ os primeiros seriam carnívoros _ e inclui de volta à linhagem dos dinossauros os silessaurídeos, até então conhecidos apenas como parentes próximos dos dinos. Neste grupo, está o Sacisaurus agudoensis, que foi encontrado em Agudo, no Rio Grande do Sul.
Para chegarem a esta hipótese, o paleontólogo da UFSM Rodrigo Temp Müller e o aluno do curso de Ciências Biológicas Maurício Silva Garcia reuniram e estudaram, desde março, mais de cem fósseis de 62 espécies. Como não podiam trabalhar nos laboratórios da universidade, os dois atuaram a distância.
— A pandemia de coronavírus acabou nos motivando a iniciar esta pesquisa, já que não poderíamos estar em campo. Deu certo! Ainda temos mais fósseis para serem descritos e usaremos esta matriz para novos estudos — aponta Müller.
A árvore evolutiva dos dinossauros é composta por dois grupos principais, chamados de Saurischia e Ornithischia. Ambos tiveram origem durante o Período Triássico (entre 252 e 201 milhões de anos atrás), o primeiro dos três da Era Mesozóica (que culminou na extinção dos dinossauros). A origem dos dinossauros saurísquios é bastante explorada, uma vez que são conhecidos diversos fósseis das formas mais primitivas deste grupo. Por outro lado, a origem dos ornitísquios é um grande mistério, pois não há registros seguros de ornitísquios em rochas do Período Triássico, enquanto em rochas dos Períodos Jurássico e Cretáceo o grupo é muito bem representado.
— Ao unirmos os dados com o que se já conhecia, foi possível chegar a esta hipótese alternativa, a partir de análises computacionais que processam a enorme quantia de dados anatômicos e recuperam as árvores evolutivas mais prováveis. Os últimos anos testemunharam descobertas fascinantes em relação aos dinossauros mais primitivos do mundo, inclusive muitas dessas descobertas realizadas em território brasileiro. Por outro lado, antes deste estudo, todas essas novas informações ainda não haviam sido combinadas em um único conjunto de dados abrangente — revela Müller.
A partir de agora, a hipótese alternativa apresentada pelos pesquisadores gaúchos será testada à medida que novos esqueletos sejam descobertos e novas interpretações venham à tona.