Uma nova espécie de réptil pré-histórico, o Dynamosuchus collisensis, foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com paleontólogos do Museu de La Plata (Argentina) e do Virginia Tech (EUA), no interior de Agudo, no Centro do Rio Grande do Sul. O estudo, liderado pelo paleontólogo brasileiro Rodrigo Temp Müller, do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA) da UFSM, foi publicado nesta sexta-feira (31), na revista científica especializada em paleontologia Acta Palaeontologica Polonica.
Segundo Müller, o novo achado viveu há cerca de 230 milhões de anos, mesmo período dos dinossauros, tinha pouco mais de dois metros de comprimento e foi um parente distante dos crocodilos. Descoberto em março de 2019, quase na superfície do terreno, o Dynamosuchus collisensis estava quase completo. Os pesquisadores conseguiram recuperar o crânio (parcialmente), vértebras e costelas, dois membros anteriores, um membro posterior e parte da carapaça que revestia o corpo do animal.
Ao todo, o processo de coleta, revestimento da rocha com gesso, retirada do local, remoção dos ossos em laboratório, estudos de anatomia e análises levou cerca de seis meses. Desde setembro, a pesquisa estava sob avaliação da revista científica, que analisou a importância do estudo. A confirmação veio nesta sexta.
— O Dynamosuchus collisensis representa o primeiro réptil no Estado com adaptações à necrofagia (se alimentava de animais mortos). Os estudos continuarão e estamos vendo uma data para uma exposição pública no CAPPA — explica Müller.
A nova espécie faz parte dos ornitossuquídeos, répteis caracterizados pela forma do focinho — mais projetado para a frente do que as mandíbulas inferiores. Eles também apresentam dois dentes maiores do que os outros em cada lado da mandíbula inferior e uma couraça óssea revestindo todo o dorso, assim como nos jacarés e crocodilos. Esses animais eram terrestres e se locomoviam com as quatro patas, mas também podiam correr apenas com as patas posteriores.
O achado representa a quarta espécie de ornitossuquídeo descrita até hoje em todo o mundo (até então haviam sido identificados na Argentina e na Escócia), sendo que a última foi descrita há meio século.
Esses animais tinham uma mordida muito mais forte do que a de outros parentes próximos, o que, junto com a forma do focinho, indica que eles eram necrófagos. A mordida serviu para dar nome ao gênero, Dynamosuchus, que significa crocodilo poderoso. Já o epíteto específico 'collisensis' é uma adaptação do latim para a palavra 'morro', fazendo referência ao local onde o esqueleto foi encontrado, um sítio fossilífero localizado na base do "Morro Agudo".
A pesquisa liderada por Müller contou com a participação das paleontólogas argentinas M. Belén von Baczko e Julia B. Desojo, do Museu de La Plata, e do paleontólogo norte-americano Sterling Nesbitt, do departamento de geociências do Virginia Tech. A reconstrução do Dynamosuchus collisensis em vida ficou a cargo do paleoartista Márcio L. Castro.