Uma pesquisa de doutorado realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) identificou o mais antigo registro de dentição hipsodonte — aquela na qual o crescimento dentário se prolonga por mais tempo, semelhante a dos mamíferos herbívoros.
Capitaneado pelo biólogo Tomaz Melo, doutorando de Geociências da UFRGS, em parceria com pesquisadores da universidade, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul e Museo Argentino de Ciencias Naturales, o trabalho foi publicado na Nature Communications — confira neste link — , uma das maiores publicações científicas do mundo.
A descoberta foi feita por meio da análise de fósseis e dentes de um cinodonte da espécie Menadon besairei, que viveu no período Triássico (cerca de 235 milhões de anos atrás).
— Nossa conclusão é de que nesse animal já estava presente esse tipo de dentição superespecializada que, hoje em dia, só é encontrada em mamíferos — diz Melo.
Análise de 15 fósseis e 20 dentes isolados
Ele explica que, em função da dieta herbívora e do ambiente seco e árido, os dentes desses animais sofriam maior desgaste e seguiam crescendo por um período maior.
— Nós (mamíferos) temos um número limitado de dentes de leite e, depois, permanentes, que não se modificam mais apesar do desgaste da mastigação. Em alguns animais, os dentes podem continuar se prolongando e compensar o desgaste. Isso está presente em ovelhas, bichos-preguiça e cavalos, por exemplo — emenda.
Para chegar à descoberta, a equipe analisou 15 fósseis e 20 dentes isolados, todos encontrados em Santa Cruz do Sul. Antes da pesquisa, o registro mais antigo desse tipo de dentição pertencia a um mamífero que vivou 70 milhões de anos após o Menadon besairei. Portanto, ao contrário do que se acreditava, a hipsodontia não surgiu apenas com os mamíferos, que podem ser considerados parentes muito distantes dos cinodontes.