A ideia nasceu sem ambição, com a intenção de somente ser apresentada em uma mostra científica. Mas o sistema pensado por Fabiane Kuhn, 23 anos, e seus colegas Guilherme Ramos e Vinícius Müller, ambos de 21 anos, na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo, para reduzir perdas na irrigação de lavouras virou negócio, com benefícios para o produtor rural e para o meio ambiente.
Foi a estiagem de 2014 e 2015 no Sudeste brasileiro, que provocou racionamento de água e esvaziou os reservatórios paulistas, o pano de fundo para o projeto que o trio apresentou na Mostratec, uma das maiores feiras de ciências do Brasil, que acontece anualmente, no mês de outubro, em Novo Hamburgo.
— As pessoas não tinham água. Eu e o Guilherme descobrimos que mais da metade da água no mundo é destinada à agricultura e, aproximadamente, 70% é desperdiçada na irrigação — conta Fabiane.
Será que precisa mesmo ser assim? A pergunta levou os estudantes a criarem um sistema com vários sensores enterrados no solo, que monitoram a umidade da lavoura em tempo real. Toda a comunicação é sem fio. Apenas a central que recebe os dados dos sensores precisa estar ligada à internet. Assim, mesmo de longe, o agricultor consegue acompanhar e decidir o que fazer — após consultar o sistema no celular.
— Quando tem muita água no solo, a planta acaba sofrendo pelo excesso de oxigênio. Quando tem pouca água, obviamente ela acaba sofrendo pela falta de água. Isso afeta a produtividade e o quanto o agricultor vai lucrar lá no final da safra. Reflete em quanto dinheiro ele vai gastar para manter o sistema e em quanta energia elétrica vai ser usada pra manter o sistema de irrigação ligado quando não é necessário — diz Fabiane.
O sistema de monitoramento funciona com placas de energia solar. O que lá no começo era apenas uma ideia conquistou o primeiro lugar na Mostratec em 2015, e o trio foi em outras feiras do mundo. Na Feira Internacional de Ciência e Engenharia, que acontece anualmente nos Estados Unidos, ganharam o terceiro lugar em uma categoria. Também desenvolveram todo o software e a plataforma usados no sistema.
— Desde então, ganhamos mais alguns prêmios e pensamos: o que podemos fazer com isso? Não vamos deixar na gaveta o prêmio. Então, a gente decidiu abrir a empresa. A gente pegou esse sonho com muita garra e quis seguir com ele — lembra Vinícius Muller.
Assim surgiu a Raks, hoje com sede em São Leopoldo, e até o professor orientador do projeto virou sócio. Atualmente, é a única brasileira entre as cinco selecionadas no mundo para um programa de aceleração de pequenas empresas ligadas ao agronegócio, que acontece nos Estados Unidos. A idade da equipe é de 23 anos pra baixo. Um ex-colega de turma foi contratado pra reforçar a equipe.
— O que eu gostei muito é de estar num ambiente superdinâmico, tendo responsabilidades e fazendo alguns desenvolvimentos do produto que, em empresas maiores, com a minha idade, é muito difícil de fazer — conta Gustavo Scherer.
A tecnologia já está presente em cinco propriedades, uma delas nos Estados Unidos. Os clientes são produtores de culturas delicadas, que sofrem muito com períodos de estiagem, como morangos e nozes. Para os jovens empresários, o incentivo à pesquisa no Ensino Médio foi determinante para que eles chegassem até aqui.
— A gente enxerga as coisas como oportunidade, e não como problemas. E hoje nós estamos aqui com um time jovem, eu sou a mais velha do time, com 23 anos. A gente tem toda essa noção que o jovem não é só o futuro, o jovem também é o presente — completa Fabiane.
Sobre a Raks
- Prêmios: primeiro lugar na Categoria Engenharia Eletrônica da Mostratec, em 2015; terceiro lugar na categoria de Sistemas Embarcados na INTEL ISEF, em 2016; campeã da etapa nacional da maior competição de empreendedorismo universitário do mundo, o GSEA, em 2018; Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia na categoria Iniciação Científica, em 2015; Prêmio Vencedores do Agronegócio, na categoria sustentabilidade; primeiro lugar na categoria Facilidades do programa Campus Mobile, recebendo uma viagem de imersão no Vale do Silício; e Prêmio O Futuro da Terra.
- O que faz: monitora a umidade da lavoura em tempo real, evitando o desperdício de água e aumentando o lucro para o produtor.
- Propriedades atendidas: cinco, uma nos Estados Unidos.
A série Te Mostra, Rio Grande é uma iniciativa do Grupo RBS para valorizar ainda mais a forte raiz empreendedora gaúcha. Serão apresentadas 12 iniciativas de quem constrói e contribui para o nosso Estado. A série tem apoio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e da Assembleia Legislativa.