A busca por fontes de energia sustentáveis tem movimentado o setor civil mundial, e o Brasil não está de fora desta corrida. Nesta quinta-feira (4), durante o 2° Fórum da Inovação na Construção Civil, realizado no Teatro Unisinos, em Porto Alegre, foi apresentada uma novidade que está revolucionando o mercado dos chamados prédios verdes desde 2017. Criada pela empresa mineira Sunew, uma espécie de lâmina leve, resistente, fina e extremamente maleável produz energia elétrica por meio da luz solar. Na capital gaúcha, ainda não há prédios utilizando a tecnologia.
Identificadas como filme fotovoltaico orgânico (OPV, na sigla em inglês), essas folhas são feitas com materiais recicláveis e não tóxicos. Cada lâmina é produzida como se fosse um sanduíche, composta por cinco nano folhas de polímeros (cadeias longas de carbono, hidrogênio e oxigênio) sintetizados em laboratório. Por fim, estes polímeros são impressos em rolo plástico, como uma bobina de papel.
Geralmente, o suporte mais popular de geração de energia solar são as placas, que chegam a pesar 25 quilos. Os filmes fabricados pela Sunew ficam na faixa de 300 gramas por metro quadrado, têm 0.3 milímetros de espessura e podem ser colocados em estruturas curvas. O grande trunfo da tecnologia é o ganho ambiental, explica o diretor de novos negócios da Sunew, Filipe Ivo.
— A grande vantagem é que eles chegam a liberar 20 vezes menos carbono no ambiente quando comparadas com os painéis solares tradicionais, porque usamos materiais sintéticos em sua fabricação — diz Ivo.
A tecnologia é também mais versátil e em sintonia com as atuais tendências arquitetônicas. Em São Paulo, por exemplo, prédios que priorizam a vista externa estão em alta na construção civil. Logo, as janelas ganham importância nos edifícios, mas acabam não tendo outra função além da estética. Com a chegada dos filmes, os vidros podem ser adesivados ou serem fabricados com a tecnologia aplicada na estrutura. Além de gerar energia, o OPV proporciona conforto térmico, economia no sistema de refrigeração e controle de luminosidade ao bloquear 99% dos raio infravermelhos e 95% dos ultravioletas
Expectativa de que novidade chegue ao público em quatro anos
O OPV pode ser utilizado também em mobiliários urbanos, como paradas de ônibus e bicicletários, por exemplo. No Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ele pode ser visto por meio da OPTree, um mobiliário com formato de árvore que capta luz solar e a transforma em energia elétrica, o que possibilita o carregamento de celulares de modo independente e sustentável. Essa árvore, inclusive, já está presente nos Estados Unidos, na Austrália e em Dubai.
Atualmente, a novidade é encontrada apenas em grandes prédios e shoppings. Como a demanda é pequena, o preço de instalação ainda é alto. Um metro quadrado de OPV custa cerca de R$ 1 mil. Para se ter uma ideia, segundo a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), uma residência com dois moradores gasta, em média, 100 KW/h por mês, o que gera uma conta de luz de R$ 82,61. Caso essa unidade decidisse instalar OPV, gastaria hoje, aproximadamente, R$ 12 mil para gerar a mesma quantidade de energia. Ou seja, seriam necessários cerca de 12 anos para recuperar o valor investido. Atualmente, essa conta espanta interessados no uso residencial, mas o futuro é promissor, acredita Ivo.
— Estamos na mesma fase que os aplicativos de mobilidade já estiveram anos atrás. Como não tem demanda, por falta de conhecimento desta tecnologia, o preço para sua comercialização é elevado. Mas, assim que o OPV se tornar mais popular, os preços vão baixar e o produto chegará às pessoas. Esperamos que isso acontece em até quatro anos — sinaliza o diretor de novo negócios da Sunew que pontua ainda que uma família composta por duas pessoas e que consuma 100 KW/h por mês de energia, precise de somente 12 m² de OPV para alcançar autossuficiência energética.
O 2° Fórum da Inovação na Construção Civil é organizado pela empresa de consultoria gaúcha Climb Consulting Group e pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos). O fórum busca repensar a indústria e estimular a visibilidade de empresas que mesclam demandas do setor civil com inovação.