A Estação Espacial Internacional - que hospedou, em 2006, o astronauta brasileiro Marcos Pontes, hoje à frente do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) - é o maior exemplo atual do rumo que a exploração espacial deve tomar, 50 anos após a chegada do homem à Lua. A ISS (sigla em inglês para International Space Station) recebeu, desde que começou a ser ocupada, em 2000, a visita de 230 pessoas de 18 países. É símbolo da cooperação que marca os atuais esforços relacionados ao espaço.
— Enquanto EUA e Rússia estão brigando aqui na Terra, o (Donald) Trump e o (Vladimir) Putin falando que um espionou o outro, lá no espaço estão trabalhando juntos. Os astronautas americanos só vão para o espaço através da Rússia. Os EUA não mandam astronautas para o espaço: têm de ir para o Cazaquistão. Então, existe cooperação. Se não cooperar, não acontece a exploração espacial. Se não for o trabalho em equipe, não vamos a lugar nenhum — garante Jefferson Michaelis, diretor de Educação Espacial da Kennedy Space Center International Academy, organização dedicada a despertar o interesse de jovens pelo espaço.
É em conjunto, portanto, que se prevê a realização de novos feitos envolvendo seres humanos fora da Terra. E chegar a novos avanços passa por um lugar já conhecido, mas bem pouco explorado.
Se não cooperar, não acontece a exploração espacial. Se não for o trabalho em equipe, não vamos a lugar nenhum.
Tem se consolidado a crença de que chegar a Marte passa, necessariamente, por um retorno à Lua. E uma nova missão para lá não está distante. O governo norte-americano anunciou que pretende voltar ao satélite natural da Terra em breve - seria uma parada na jornada rumo ao Planeta Vermelho.
A largada para esses planos foi dada pela própria Nasa, mas a agência espacial dos EUA não quer mais desenvolver sozinha as naves e foguetes, nem assumir a responsabilidade por seu lançamento, pouso ou controle. A intenção, agora, é que o setor privado lide com esses desafios e leve os experimentos para a Lua - contando com apoio financeiro do governo norte-americano.
— Estamos fazendo algo nunca feito antes — anunciou Jim Bridenstine, administrador da Nasa, em novembro do ano passado. — Quando formos à Lua, queremos ser um cliente de muitos clientes em um mercado robusto entre a Terra e seu satélite — garantiu.
Um dos prováveis "empregadores" da Nasa em breve é o bilionário Elon Musk, fundador da Tesla e empresário que mais conseguiu bons resultados no espaço. Ele pretende operar voos comerciais para além da Terra. A Musk, somam-se Jeff Bezos, CEO da Amazon e fundador da Blue Origin, e Richard Branson, do grupo Virgin.
Os executivos terão uma concorrência de peso na consolidação da exploração comercial do espaço. Dona de um poderoso programa espacial, a China afrouxou o monopólio estatal em lançamentos de foguetes e alimentou a formação de empresas nacionais - startups que têm recebido investimento pesado, em um mercado de bilhões de dólares que só estaria atrás dos EUA em orçamento. O país declarou intenção de enviar um veículo explorador a Marte a partir do ano que vem.
Diversas nações, por mais que se mantenham ocupadas com outros projetos – as agências Espacial Europeia (AEE) e a Japonesa de Exploração Aeroespacial (AJEA), por exemplo, decidiram lançar uma missão a Mercúrio –, não escondem o desejo de chegar a Marte. Tanto que Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua, capitaneou um movimento em busca de recursos para retornar até lá.
— Isso é muito legal: um astronauta foi, sabe do potencial científico desse tipo de missão, sabe de todos os desafios que ela envolve, esteve na Casa Branca, viu que todo mundo só falava em Marte e mudou a história. Ele sabe que, antes de ir a Marte, a gente tem de fazer um trabalho de casa na Lua — comenta Michaelis.
Queremos colocar pessoas em Marte. Mas há problemas significativos que precisamos resolver antes disso. Penso que o próximo passo é voltarmos à Lua.
Jim Christensen, diretor-executivo da Fundação Buzz Aldrin Share Space, criada pelo astronauta norte-americano para também inspirar as novas gerações pela temática espacial, concorda:
— Queremos colocar pessoas em Marte. Mas há problemas significativos que precisamos resolver antes disso. Penso que o próximo passo é voltarmos à Lua, termos uma estação espacial perto da Lua. Assim, passaremos a ver pessoas pousando lá e retornando para essa estação. E acredito que veremos isso em breve. O vice-presidente dos EUA (Mike Pence) anunciou que faremos isso até 2024. Espero que sim!
A Nasa foi além e, no início deste mês, dias depois do anúncio do retorno à Lua para daqui a apenas cinco anos, divulgou a intenção de pousar em Marte em 2033.
Existe um grupo trabalhando com a Lua, outro, com Marte, e um terceiro, com asteroides. Ao que tudo indica, em 20 anos, estaremos explorando asteroides e trazendo para a Terra os minérios.
JEFFERSON MICHAELIS
diretor de Educação Espacial da Kennedy Space Center International Academy
Mas não é só de Lua e Marte se fala nas grandes agências espaciais. No futuro próximo, o que tem motivado a exploração espacial atualmente não é nem um planeta, nem um satélite.
— Há os asteroides. Existe um grupo trabalhando com a Lua, outro, com Marte, e um terceiro, com asteroides. Por quê? Os asteroides, segundo cientistas, podem, primeiro, conter a chave da nossa criação, o porquê de existirmos, e conter minerais que hoje estamos gastando na Terra. Ao que tudo indica, em 20 anos, estaremos explorando asteroides e trazendo para a Terra os minérios, até mais ricos em ferro do que os que usamos hoje, estragando a Terra — projeta o diretor da International Space Academy.
Para Michaelis, a exploração de asteroides e suas riquezas minerais ocorrerá inclusive antes da volta à Lua. Enquanto o homem estiver aprendendo a colonizar seu satélite natural, ou chegando ao Planeta Vermelho, serão trazidos à Terra recursos naturais dos asteroides - muito por conta dos investimentos da iniciativa privada, ele estima.
Leia as outras reportagens da série:
Chegada do homem à Lua completa meio século em julho e já começa a inspirar reflexões e homenagens, sobretudo nos EUA, ressaltando o interesse recorrente pelo espaço sideral. Leia.
Tem se consolidado a crença de que chegar a Marte passa, necessariamente, por um retorno à Lua. E uma nova missão para lá não está distante: os EUA a planejam para 2024. Leia.