Simpático e falante, Marcos Pontes, conhecido por ser o primeiro brasileiro a ir ao espaço, está de passagem pelo Rio Grande do Sul, em trabalho de divulgação do Kennedy Space Center, situado na Flórida, nos Estados Unidos. O local é considerado o maior centro de visitação da Nasa, agência espacial norte-americana, e tem um grande braço voltado para pesquisa e desenvolvimento de tecnologia.
Em visita a Capital nesta terça-feira (21), Pontes, que é astronauta da Nasa, conversou com GaúchaZH sobre seu trabalho nos EUA, seus projetos no Brasil e uma possível atuação como ministro da Ciência e Tecnologia em caso de vitória de Jair Bolsonaro (PSL), candidato a Presidência da República. Por algumas vezes, entre as xícaras de café com leite e os copos de suco de laranja, Pontes foi obrigado a pausar o papo para tirar fotos com os hóspedes do Plaza São Rafael, onde ocorreu a entrevista. Sem titubear, levantou-se e posou com os fãs.
Entusiasta da educação como "solução de tudo", ele mantém a Fundação Astropontes, que tem como objetivo aproximar a ciência de crianças e jovens estudantes brasileiros.
— Eu sou obcecado por educação. Eu vejo nela a solução de tudo aquilo que a gente reclama. Ela está na base. Estamos falando de tantas coisas que são importantes agora, mas, no meu ponto de vista, é como se estivesse sendo tratada a febre sem tratar da causa. Então, eu acho que tem que mexer na educação.
Confira a entrevista:
Como é seu trabalho na Nasa?
Eu tenho contrato com eles. Estava no Programa Espacial Brasileiro até 2016, com quem eu tinha um acordo de 10 anos a partir do voo, que foi em 2006 (Pontes embarcou na nave russa Soyuz TMA-8, rumo à Estação Espacial Internacional, a ISS, tornando-se o primeiro brasileiro a ir para o espaço). Ele não foi renovado e fiquei só com os contratos com a Nasa. A Nasa tem centros independentes administrativamente, então não quer dizer que, tendo contrato com um, tem com todos. Com empresas do Johnson Space Center, eu trabalho com integração de sistemas e painéis. E com o Kennedy, tenho essa parte de representação da Nasa.
Como isso funciona?
Por exemplo, toda a semana tem um astronauta que fica de serviço lá (no Kennedy) para representar a Nasa perante turistas e autoridades que chegam. Aí, você é responsável por receber as pessoas, você fala em nome da Nasa... Praticamente todas as unidades da Nasa têm uma parte operacional e uma aberta à visitação. E o Kennedy é o centro com a parte de visitação mais desenvolvida.
Quando teremos turismo espacial?
Tecnicamente, em no máximo dois anos. Eles (empresas que investem nesse tipo de tecnologia) têm que ser certificados. Enquanto tem astronautas dentro, pilotos de teste, como eu, você pode voar em aeronaves experimentais. Se acontecer um acidente, você terá astronautas, o que, teoricamente faria parte do trabalho. Não tem influência legal muito grande. Agora, se você perde turistas, é diferente. Mas isso (o turismo espacial) pode acontecer no ano que vem, com um custo aproximado de US$ 250 mil (cerca de R$ 997 mil, em conversão de 21 de agosto) para 1h45min a 2h (duração das viagens). Mas esse custo vai reduzir.
Qualquer turista poderá fazer essas viagens?
O treinamento para turista será bem simples. Pode-se comparar com o comprar uma passagem de avião, na qual você entra na aeronave e recebe as instruções do comissário. Então, para uma das empresas que está trabalhando nisso, o turista terá um treinamento básico de duas semanas explicando questões de fisiologia – o que vai acontecer com o corpo –, e depois tem treinamento mais específico, no Novo México, onde também são feitos exames médicos. A pessoa não poderá ter problemas de coluna, coração etc.
Como é feito o trabalho em sua fundação, a Astropontes?
A gente trabalha com ciência e tecnologia para educação, então, tudo que envolve isso e que possa interessar alunos desde o fundamental até a faculdade, me interessa muito. Como era quando eu aprendi na escola? A gente sentava, o professor explicava uma matéria, física, por exemplo, colocava as equações no quadro, as pessoas querem decorar e, depois que você aprende, vai lá, faz prova e vai no laboratório para testar. Ultrapassado! Você não consegue chamar atenção de aluno hoje em dia com esse tipo de aula. Isso aqui é muito mais interessante, convenhamos (diz, levantando o smartphone). Como a gente faz para atrair a atenção dos alunos? Coloca o que a vida real apresenta: você, no dia a dia, encontra um problema, vai aprender a resolvê-lo. Por exemplo: nós usamos robótica, aerodinâmica, eletrônica, todas essas coisas que parecem legais. Aí chegamos para eles cheio de componentes eletrônicos e falamos: sua função é construir um rádio que vai operar da frequência tal a tal na AM. O legal é que, a partir daí, eles têm uma situação de vida e vão buscar a solução.
A gente organiza competições em cidades, tem shows aéreos voltados para ciência e tecnologia e, atualmente, fizemos acordo com uma instituição de Bauru (SP) que atende crianças da periferia no contraturno das aulas. Vamos levar cursos de aeroespacial para alunos dos ensinos Fundamental e Médio.
Falou-se que o senhor poderia integrar o governo de Bolsonaro, em caso de vitória dele na disputa à Presidência da República. Qual o seu envolvimento com a política?
Fico sempre tangenciando. Recebo muito convite para ser candidato, eu fui em 2014. Eu era amigo do Eduardo Campos. Então, ele me pediu ajuda para desenvolver um programa em ciência e tecnologia, que é a minha área. Comecei a montar planos para o governo dele quando ele disse que precisava de candidatos bons em São Paulo. Eu respondi que não era minha especialidade, mas ele insistiu e, no final, acabei aceitando. Só que eu não fazia campanha. Fiz as coisas que eu faço normalmente, dava palestras e no fim dizia "Ah, eu também sou candidato". Mas fiz quase 44 mil votos. Como Deus sabe o que faz, talvez não fosse uma boa ideia naquela época. Aí este ano, Bolsonaro me procurou para ajudar em programas na área. Assumiria o cargo de ministro de Ciência e Tecnologia. Já falei para ele, se ele me colocar lá, eu assumo a missão. Isso é o que eu sei fazer, está dentro do meu contexto.